domingo, 26 de julho de 2015

E se for político? Aborta?



O deputado Laerte Bessa (PR-DF), relator da PEC 171/93, que trata da antecipação da responsabilidade criminal para 16 anos, afirmou em entrevista ao jornal britânico The Guardian em 29 de junho: “Um dia, chegaremos a um estágio em que será possível determinar se um bebê, ainda no útero, tem tendências à criminalidade, e se sim, a mãe não terá permissão para dar à luz”. Essa teoria é antiga, data do século XIX, quando o psiquiatra italiano Cesare Lombroso, criador da antropologia criminal, afirmava ser possível afirmar se um sujeito seria um criminoso a partir de suas características físicas.
Antiga e perigosa! Os nazistas se apoiaram nas teorias de Lombroso para eliminar os filhos de seus desafetos, afirmando que os filhos herdaram os “defeitos” dos pais. Mas a infeliz afirmação do deputado nos leva à três reflexões. A primeira delas é com relação ao aborto. Se a mulher engravida e não deseja ter o filho, os puritanos de plantão se apressam em evocar a Bíblia para afirmar que isso “não é de deus” e que a pecadora assará no fogo do inferno por ter “tirado a vida” do inocente. Quando esse inocente é considerado um criminoso em potencial baseado numa “teoria” ultrapassada e racista, ele deixa de ser “uma vida” e a mulher não tem escolha a não ser fazer o aborto. Em outras palavras, o aborto deve ser uma conveniência “deles”, não da mulher que é a legítima dona do seu próprio corpo.
Se até hoje os religiosos de plantão preferem encarar o aborto como um caso de polícia e não o problema de saúde pública, com a teoria obscena do deputado evangélico o aborto passará a ser encarado como um caso “cientificamente” de Estado, de interesse de toda a sociedade. O aborto pode ser encarado de todas as formas, de acordo com os puritanos, menos como um problema de saúde pública ou uma decisão da mulher.
A segunda reflexão é com a relação à capacidade de punir que esse povo que vive vomitando deus e relinchando orações tem (o deputado faz parte da bancada evangélica). Se um feto, que é apenas suspeito de se tornar um criminoso no futuro tem que morrer, o que não deve acontecer com o criminoso já nascido? Ser brutalmente torturado por ter ousado nascer e, pior, ter se tornado criminoso numa sociedade de justos? Me impressiona a predisposição ao perdão dos cristãos. 
A terceira reflexão na verdade é tão somente uma pergunta: e se, no útero, for constatado que o feto tem tendências a ser político? E, o que é pior, um deputado evangélico? Aborta?
  

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