sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Um funk que não dá para ostentar



Gustavo Ioschpe é um especialista em educação que escreve para a revista VEJA. A revista acredita que ele realmente é especialista em educação. Então se a VEJA acredita nisso, eu posso acreditar que sou um campeão do UFC. Recentemente, o “especialista” lançou um edição ampliada do seu livro O que o Brasil quer ser quando crescer?, onde ele derruba 12 mitos da educação brasileira.
Gustavo Ioschpe é economista com graduação em ciência política e administração estratégica. Que ele é um estudioso da educação não se discute, mas discutir educação a partir de uma sala refrigerada sem nenhum aluno por perto é o mesmo que ser campeão do UFC sem entrar no octógono. Até onde sei o senhor Ioschpe nunca “encarou” uma sala de aula abarrotada de alunos para sobreviver.
Talvez isso explique alguns dos seus raciocínios obtusos quando trata do seu “hobby”, a educação. Um dos “mitos” que ele diz derrubar é o de que “os professores são mal remunerados”, comparando o salário do professor brasileiro com o de outros países, concluindo que o professor ganha mal “por ser brasileiro, não por ser professor”, pois as demais categorias nacionais, quando comparadas com as suas similares em outros países, também ganham mal.
Não me interessa saber quanto ganha um professor nos EUA ou no Japão. São realidades diferentes, PIB’s diferentes. O professor brasileiro, segundo pesquisa da empresa Rais divulgada pelo Estadão em novembro de 2013, é o profissional que ganha menos se comparado com profissionais brasileiros com o mesmo grau de escolaridade. Um juiz em início de carreira pode ter um salário que varia de R$ 10.000 a R$ 16.000, dependendo do estado; o de um médico da rede pública é, em média, R$ 10.000; o de economista do setor público, profissão do senhor Ioschpe, pode chegar a R$ 7.000. E o de professor? O piso da categoria é de pouco menos de R$ 1.700 e ainda tem estados que brigam na justiça para não pagar. E a má remuneração do professor é um mito?
Outro “mito” Ioschpiano é de que as “salas de aulas têm alunos demais”. Segundo ele e suas “pesquisas empíricas”, em salas com 20 alunos o aprendizado é o mesmo do que em salas com mais alunos. Experimente dá uma aula num 6º ano, com média de idade entre 11 e 12 anos, com 35 alunos! Convido o senhor Gustavo Ioschpe a passar um ano letivo em seis turmas de 6º ano com 35 alunos cada uma (e eventuais alunos especiais) em troca do piso salarial da categoria (menos de R$ 1.700).
Quando o professor tem que recorrer ao funk para chamar a atenção dos seus alunos, como fazem alguns profissionais no Rio de Janeiro, é sinal de que alguma coisa está errada. Imaginemos nosso economista-mor cantando e dançando funk numa escola de periferia com seus alunos pré-adolescentes é tão surreal quanto alguns mitos levantados por ele em seu best-seller. Só falta agora Valeska Popozuda se tornar ministra da educação!   

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