quarta-feira, 7 de junho de 2017

Bukowski: vida e loucuras de um velho safado – Howard Sounes

”Bukowski não perdia tempo com drogas, mas era um bêbado barulhento”. 
Começo com uma pergunta: se os textos de Charles Bukowski são autobiográficos, o que há mais para se saber sobre a sua vida? O jornalista britânico Howard Sounes não conheceu Charles Bukowski. Quando ele começou a trabalhar na biografia, o autor já tinha morrido. Todas as histórias de Bukowski: vida e loucuras de um velho safado, publicado originalmente em 1998 (aqui no Brasil, em 2016), foram contadas a partir de entrevistas com amigos, amantes, colegas de trabalho, editores e familiares. Como Bukowski era um missivista fértil, sua correspondência com amigos e amantes também foi fundamental para traçar não apenas um perfil literário, mas para desvendar o que pensava e como pensava esse escritor de textos ácidos e mal humorados (e ao mesmo tempo cômicos).
“A crueldade do pai foi o que mais influenciou a personalidade de Bukowski, seguida de perto da acne desfiguradora que estourou quando tinha treze anos”.
Nascido na Alemanha, filho de mãe alemã e pai americano (um soldado que foi para a Europa durante a I guerra), migrou ainda criança para os Estados Unidos. Com um pai violento e autoritário, uma mãe omissa e um problema terrível de acne, Bukowski teve uma infância e adolescência difíceis. Ainda criança, foi diagnosticado com dislexia, o que despertou a ira paterna, que atribuía seu mal desempenho escolar à falta de vontade de estudar.  Some-se à essa relação conflituosa com pai, o seu problema de espinhas, que dificultava a sua sociabilidade. “Uma infância atormentada me fodeu. Mas é assim que sou, então vou viver com isso”. Em cartas a amigos e entrevistas, o escritor dizia que sua infância foi “triste e assustadora”.   Expulso de casa, entregou-se à bebida e vagou pelo país, sem dinheiro e sem destino. Alistou-se voluntariamente no recrutamento para a segunda Guerra Mundial, mas, apesar de passar no exame físico, foi dispensado por problemas mentais e classificado como 4-F, que significava “psicopata”.
“fante era meu Deus. Ele viria a influenciar minha obra por toda a vida” (Charles Bukowski).
A vida sexual de Bukowski era um problema a parte. Perdeu a virgindade com uma prostituta depois dos vinte anos e conheceu seu grande amor somente aos vinte e oito. Jane Cooney Baker, dez anos mais velha que ele, era uma alcoólatra que perdera o contato com a família e morreu antes dele fazer sucesso. Apesar da relação turbulenta, Jane inspirou o que há de melhor na obra de Bukowski. E a relação com as mulheres que passaram em sua vida não foi diferente em termos de turbulência. Para piorar, muitas delas só vieram descobrir que ele as usava como matéria-prima para seus romances quando foi publicado Mulheres, seu terceiro romance, em 1978. Mesmo mudando os nomes e declarando que aquilo tudo era ficção, causou constrangimento para muitas ex-namoradas ver detalhes íntimos (inclusive sexual) expostos no livro.
“Uma das principais objeções de Bukowski aos escritores Beat era que muitos deles eram homossexuais”.
Se a vida sexual de Bukowski começou tarde, o sucesso também. Apesar de ver vários dos seus textos em pequenas revistas de público restrito, o primeiro livro, Cartas na rua, só foi publicado em 1960, quando o autor tinha quarenta anos. Nele, aparece pela primeira vez Henry Chinaski, alterego do autor. Respondendo a pergunta do início desse texto, a obra de Sounes é importante, pois ele desmistifica algumas das histórias contadas por Bukowski nos seus livros, ou seja, é a mesma história sob um ponto de vista diferente. E faz tudo isso com uma narrativa ágil, fluente e límpido, sem afetações estilísticas. E ainda mostra um lado pouco conhecido do autor, como a homofobia, uma das razões para ele desprezar os escritores Beat, na maioria homossexuais, segundo Bukowski. Mas nem os defeitos tiram a genialidade do “Velho safado”.         

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