quarta-feira, 12 de abril de 2017

Que loucura! – Woody Allen

“Como uma pessoa consegue ficar casada por 40 anos? Para mim, isso parece um milagre ainda maior do que a divisão do Mar Vermelho, embora meu pai, na sua ingenuidade, considere essa façanha muito mais impressionante”.
Publicado em 1980, quando Allen já era um artista conhecido e aclamado, Que loucura!  traz dezesseis textos (e não dezessete, como é anunciado na contracapa) em que autor mistura humor (na maioria sem graça), filosofia e psicanálise. Logo no primeiro texto, Retribuição, Allen acerta ao contar a história do sujeito insípido e sem atrativos que se apaixona e tem a paixão correspondida por uma mulher belíssima. O problema está quando o sujeito conhece a sogra. Um conto que poderia ser perfeitamente transformado em filme, com um personagem cheio de neuroses típico de Woody Allen. O segundo texto, Meu tipo inesquecível, é um conto repleto de piadas sem graça onde o personagem/narrador relembra a morte do seu amigo Sandor Needleman.
“Esse é o problema da filosofia: já não funciona tão bem depois da aula, ou seja, na vida real”.
Woody Allen fracassa ao tentar ser engraçado em O condenado e A ameaça de um OVNI, mas nesse último consegue pelo menos fazer uns questionamentos ligeiramente inteligentes, como ”se os discos voadores vêm do espaço exterior, por que seus pilotos não entram em contato conosco, em vez de insistirem nesses ridículos voos rasantes sobre áreas desertas?”. O ponto alto do livro é, indiscutivelmente, O caso Gugelmass, sobre um professor de literatura da Universidade de Nova York que se sente sufocado pela mesmice da vida e por um casamento sem nenhum atrativo. Certo dia é procurado por um mágico que promete coloca-lo dentro de qualquer livro. De uma hora para outra, Gugelmass se vê tendo um caso com Madame Bovary, personagem de Flaubert. Enquanto isso, estudantes de literatura mundo afora se perguntam: "Quem é esse judeu careca que entrou na história por volta da página 100 e já foi beijando Madame Bovary?".
“A loucura é relativa. Quem pode definir o que é verdadeiramente são ou insano?”

Alguns veem similaridade entre essa história e o enredo de Meia noite em Paris, do próprio Allen, lançado em 2011. Os dois textos seguintes, Como quase matei o presidente dos Estados Unidos e Na pele se Sócrates, podemos classificar como “bonzinhos”, o leitor não perderá nada se não lê-los. Os textos que vem a seguir são dispensáveis, com um humor sem graça e histórias que saem do nada e chegam a lugar algum. É o caso do texto que dá título ao livro, Que loucura!, tinha tudo para ser um bom conto, mas faz jus ao título, é uma loucura sem sentido! O mais idiota dos homens é um exemplo de como Allen se sai bem quando tenta contar uma história sem fazer graça, mesmo quando essa história não é tão boa. O seu talento para a telona, em enredos com grande capacidade de articulação de ideias, não aparece quando Allen se aventura na literatura. 

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