quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Espere a primavera, Bandini – John Fante

“Era um pedreiro e para ele não havia vocação mais sagrada na face da terra. Você podia ser um rei; podia ser um conquistador, mas não importa o que fizesse, precisava ter uma casa; e se tinha o menor bom senso, era uma casa de tijolos; e naturalmente, construída por um homem do sindicato, na tabela do sindicato. Aquilo era importante.”
John Fante é um caso curioso de um grande escritor que só foi reconhecido depois de sua morte, em 1983. Apesar de grandes romances publicados ainda em vida, Fante ganhou sobreviveu como roteirista de cinema em Hollywood e sua obra (contos, ensaios e romances) só veio ser reconhecida (e parte dela publicada) depois da sua morte. Ouvi falar de Fante lendo a obra de Bukowski (“Fante foi meu mestre”) e, em 2014, li 1933 foi um ano ruim, um dos seus romances póstumos, escrito nos anos 30, mas só publicado em 1985 e sobre o qual escrevi nesse blog (http://tmetade.blogspot.com.br/2014/05/1933-foi-um-ano-ruim-john-fante.html).
“Ele veio, chutando a neve funda. Era um homem revoltado. Sentia frio e havia furos em seus sapatos. Odiava a neve. Era pedreiro e a neve congelava os tijolos que assentava entre a argamassa”.
Quase toda a obra de Fante tem caráter autobiográfico, tendo Arturo Bandini como seu alter ego. Espere a primavera, Bandini, primeiro romance do autor, publicado em 1938, mostra a infância de Bandini no Colorado. Durante o inverno, seu pai, o pedreiro Svevo Bandini, ficava impossibilitado de trabalhar, devido à neve. Isso significava dificuldades financeiras, a cara feia do dono do mercado, onde a conta da família só crescia, e jantares à base de ovos mexidos. Mas essas dificuldades não impedem Svevo de frequentar os bares e chegar em casa todas as noites com cheiro de álcool (e de mulheres também).
“Livros, não. Não houvera tempo para livros em sua vida dura e cheia de preocupações. Mas havia lido mais a fundo na linguagem da vida do que ela, apesar de seus ubíquos livros. Ele transbordava de um mundo de coisas para falar”.
Mas Arturo e seus irmãos são crianças e crianças não se preocupam com crises. Preferem dividir seu tempo entre a escola e as peraltices típicas da infância. Até que seu pai não volta mais para casa e vai morar com uma viúva rica que contratou seus serviços de pedreiro. Vendo a tristeza da mãe, que deixa de fazer a comida dos filhos e passa cada vez mais tempo trancada no quarto; e a desorientação dos irmãos, que não conseguem entender porque o pai não voltou mais para casa, Arturo, como filho mais velho, tenta agir para diminuir o ambiente pesado da casa.  Com uma linguagem direta e uma narrativa fácil, não é de se espantar que Fante tenha sido o mestre de Bukowski, para quem ele é o verdadeiro criador da “Geração beat”.  

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