domingo, 24 de julho de 2016

O outro lado da moeda (Teleny) – [Oscar Wilde]

“Pude sentir seu hálito quente e ofegante sobre meus lábios. Embaixo, nossos joelhos se tocaram, e senti algo duro comprimir-se e movimentar-se de encontro às minhas coxas”. 
De cunho pornográfico e temática homossexual, O outro lado da moeda (Teleny) foi publicado pela primeira vez em 1893 anonimamente e clandestinamente. Porém, logo depois, foi atribuído ao escritor Oscar Wilde. No entanto, Charles Hirsch, dono de uma livraria londrina na época, preferiu atribuir a autoria a um grupo de escritores amigos de Wilde, devido a rasuras, correções e grafias diferentes encontradas no texto original. Sua publicação só foi autorizada em solo inglês em 1986, em virtude da Lei de Publicações Obscenas, de 1857, que regulamentava publicações de cunho erótico e sexual.
“A lembrança de meu pai me veio à mente e perguntei a mim mesmo, trêmulo, se meu senso também estaria me deixando”.
O narrador, Camille, conta a história que teve com um famoso jovem pianista da época, René Teleny. Se sentindo atormentado por ter atração por outro homem numa época em que a homossexualidade era crime, Camille não consegue conter o ciúme que sente do belo pianista. Chega a ser hilário suas tentativas de fazer sexo com mulheres, sem sucesso. É durante o dilema de Camille que o autor aborda temas como a moral, a natureza do ser humano e o preconceito, e acaba por estabelecer uma razão lógica do não pecado da homossexualidade.
“Um falo agia sobre mim como - eu suponho - sobre uma mulher muito voluptuosa; minha boca realmente se enchia d'água diante de tal visão, especialmente se fosse um de bom tamanho, vigoroso, com a cabeça arregaçada e a glande carnuda”.
Para quem procura uma literatura gay clássica, esse livro é o mais indicado. As cenas de sexo são fortes e de uma sensualidade e erotismo poéticos. De tão marcantes, as cenas dos dois personagens fazendo sexo termina por deixar a discussão sobre o preconceito em segundo plano. Mas o livro deixa uma lição indelével aos leitores de hoje: a hipocrisia, infelizmente, é uma das coisas que não mudou desde a longínqua Inglaterra do século XIX.

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