quarta-feira, 20 de abril de 2016

Pistoleiros também mandam flores – David Coimbra

“Talvez até tivesse sido bom abreviar a passagem dele por esse vale de lágrimas. Convenceu-se de que foi um ato humanitário ceifar o sofrimento do pobre coitado. Dez segundos, tudo resolvido. Sem aquela longa agonia dos hospitais, sem a decadência da velhice. Muito mais prático e barato. Deviam lhe agradecer”. 
Ambientado em Porto Alegre, Pistoleiros também mandam flores, publicado em 2007, é uma bem-humorada novela policial que tem como protagonistas o pistoleiro Aníbal, um ex-policial que resolveu entrar para o “ramo de eliminações de problemas por encomenda”; e o jornalista em início de carreira recém-chegado do interior Régis Rondelli, um sonhador incorrigível. Em torno de ambos o também jornalista Nico, um bom vivant que tem a sorte sempre do seu lado quando o assunto é mulher.
“Assim era bom, assim era direito: executar a vítima antes mesmo que ela pudesse sentir medo ou dor. Isso era clemência. Isso era humanidade. Isso era civilização. Aníbal era uma boa pessoa”.
A história começa com o assassinato do professor Vanderlei. Não é segredo para ninguém que o autor foi Aníbal, que além de pistoleiro, tem também uma veia “filosófica”. O mistério está em quem mandou matar e o motivo. É aí que entra em cena o projeto de jornalista Régis Rondelli. Sonhando com um carrão na garagem, belas mulheres, uma conta bancária recheada e viagens a paraísos terrestres, Rondelli ver na investigação do crime e seu desvendamento a ponte para realizar todos os seus sonhos.
“Quando a mulher se torna esposa, ela se torna parente. A relação sai do âmbito do prazer e vira obrigação. (...) O sexo deixa de ser sexo. Toda aquela intimidade causada pela monogamia se transforma em amizade, em afeto, em carinho ou, pior, em amor”.
Quem ler Pistoleiros também mandam flores se sente confidente dos personagens. O Aníbal tentando convencer a todos da “nobreza” da sua profissão; Rondelli partilhando com todos os seus sonhos de grandeza; e Nico distribuindo charme e filosofia anti-matrimônio. E essa sensação é causada pela escrita de David Coimbra: envolvente e agradável, parecendo até que o autor está batendo um papo com o leitor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário