sexta-feira, 4 de abril de 2014

O brasileiro merece ser estuprado

Pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra que 65% dos entrevistados concordam que “mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas” e para quase 60% acham que se as mulheres soubessem “se comportar” haveria menos estupros. Definitivamente, o brasileiro é um povo surreal. Vou dizer surreal para não dizer hipócrita! Ao mesmo tempo em que enaltecemos a beleza da mulher brasileira, realizamos um carnaval onde predominam peitos, bundas e roupas sumaríssimas e nas praias a mulheres vestem (vestem?) adereços com o nome sugestivo de “fio dental”, mais da metade de nós acredita que as nossas belas mulheres se comportam mal e por isso merecem ser estupradas.
Para protestar contra o resultado da pesquisa, a jornalista e escritora Nana Queiroz criou o grupo virtual “Eu não mereço ser estuprada” e passou a ser ameaçada de estupro. O cordial brasileiro não apenas pensa absurdamente, mas faz questão de mostrar, na prática, que os dados da pesquisa não estão errados. A hipocrisia brasileira não conhece limites, ela permite que “o homem cordial” aja como um povo de um país tropical liberal durante o carnaval e o verão, mas pense como um talibã afegão no restante do ano.
A dinâmica do raciocínio do brasileiro é uma incógnita. A culpa nunca é dele e da sua estupidez crônica! Se o Brasil é uma merda, a culpa um dia foi dos portugueses, depois dos Estados Unidos e do FMI e agora é da FIFA. Se há estupros no Brasil e não podemos culpar os portugueses, nem os EUA, nem a FIFA, então a culpa é das mulheres. Nada mais lógico (?)! É a lógica do “não sei por que estou te batendo, mas você sabe por que está apanhando”.
Brasileiro não vende seu voto, ele “rouba o político”. Depois fica reclamando quando o político dilapida o patrimônio público. Diante de tal raciocínio, não me resta alternativa a não ser propor o estupro mental do brasileiro. Quem sabe assim ele comece a raciocinar “para dentro” e consiga perceber que o inferno em que ele vive “não são os outros”, mas ele mesmo.
 

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