quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A trégua – Mario Benedetti

Narrado em forma de diário, A trégua, do uruguaio Mario Benedetti, publicado em 1960, conta a história do cinquentão e viúvo Martin Santomé, funcionário de uma importadora de autopeças e pai de três filhos adultos, com quem tem uma relação acidentada. Passadas duas décadas da morte da esposa e a alguns meses da aposentadoria, Martin vê sua vida se esvaindo sem que nada de novo aconteça. Sua vida se resume às relações burocráticas no ambiente de trabalho e com seus três filhos: Esteban, o mais arredio; Jaime, sensível e inteligente, mas não honesto; e Blanca, a mais parecida com Martin (“Ela também é uma triste com vocação de alegre”).
A vida de Martin toma outro rumo com a chegada no escritório da recém contratada Laura Avellaneda, bem mais jovem que ele e com “traços definidos, de gente leal”. É com ela que Martin descobre que a vida não acabou, que é capaz de amar de novo e que não está “ressequido” afetivamente, como imaginava após a viuvez. Tomando coragem para enfrentar os colegas de trabalho e, principalmente, os filhos, estabelece uma relação pautada na liberdade e falta de planos e de promessas com a jovem bem mais nova e de hábitos simples.
A história de amor entre Martin, o cinquentão, e Laura, a jovem simples, serve de pano de fundo para expor os vários conflitos de Santomé com ele mesmo e com os outros, notadamente os filhos. Chamo a atenção para o primor da passagem do diário em que Martin questiona a existência de Deus: “Graças a um impulso do coração, posso acreditar em Deus e acertar, ou não acreditar em Deus e também acertar. E então? Talvez Deus tenha uma face de crupiê e eu seja apenas um pobre-diabo que joga no vermelho quando dá preto, e vice-versa.”
Considerado como uma das principais obras-primas da literatura latino-americana do século XX, A trégua é considerado a principal obra do autor, um dos grandes nomes da literatura na América do sul. Mesmo escrito há mais de meio século, é uma obra atual e definitiva. 

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