quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A última tentação de Cristo – Nikos Kazantizakis

“Minha principal angústia e a fonte de todas as minhas alegrias e sofrimentos desde a juventude tem sido a incessante, impiedosa batalha entre o espírito e a carne... e minha alma é a arena onde esses dois exércitos têm lutado”.
Publicado originalmente em 1951, A última tentação de Cristo, do escritor grego Nikos Kazantizakis, não para de causar polêmicas. Em 1954 entrou para o Index Librorum Prohibitorum, a lista de livros proibidos pela Igreja Católica Apostólica Romana e no ano seguinte seu autor foi excomungado pela Igreja Ortodoxa Grega. Em 2015, o crítico literário Rodrigo Gurgel, na Folha de S. Paulo, afirmou que a obra é um exemplo perfeito de “livro famoso pelos motivos errados”, não se tratando de uma “heresia, mas de terrível insensatez”. Ainda segundo Gurgel, Kazantizakis é “um autor de segunda linha que produziu obra variada” e que, ao retratar um Jesus exageradamente hesitante diante das decisões a serem tomadas, transforma-o “num tolo perplexo e sem vontade própria”.   
 “- Ele é o Senhor, não é? Pode, portanto, fazer o que bem entender. Se ele não fosse capaz de cometer injustiças, que tipo de Onipotência teria?”
O motivo para tantas polêmicas é o perfil de Jesus Traçado por Kazantizakis na obra. Nele, o Nazareno é demasiadamente humano, com sentimentos típicos dos simples mortais, como hesitação, medo, desejos, insegurança e vulnerabilidade. Exercendo o oficio de carpinteiro especializado em fabricar cruzes para os romanos, Jesus ouvia vozes (e por isso as pessoas pensavam que ele era louco) que diziam ser ele o escolhido e temia esse destino messiânico. Um dia parte para o deserto para tornar-se monge na companhia de Judas, que havia sido contratado para mata-lo, mas que tornara-se seu melhor discípulo. Exatamente por isso é dada à ele a mais difícil de todas as tarefas: trair o mestre, já que os demais discípulos, retratados como fracos e dispostos a desertar diante da primeira ameaça, não teriam coragem para tanto.
“Pilatos sorriu:
- O que quer dizer verdade?
- O coração de jesus contraiu-se de tristeza. Assim era o mundo. Assim são os governantes. Eles perguntam o que é a verdade e riem”.
Enquanto é crucificado, recorda das tentações ás quais resistiu e um anjo ordena-lhe que pare de sofrer e desça da cruz, onde encontra Maria Madalena. Após a morte de Madalena, Jesus casa com Marta, formando uma família e vivendo como um homem comum. É por essa época que encontra Paulo, que pregava sobre o Messias que havia sido sacrificado para salvar a humanidade e o desmente. Mesmo assim, Paulo prossegue com sua pregação. Anos depois, Jesus é procurado pelos apóstolos, que o recriminam por não ter aceitado o seu destino de ser o escolhido. Retratar Jesus cristo como um ser passional e falível representa uma “heresia” imperdoável para os mais ortodoxos, estando aí parte da polêmica provocada pelo livro. Outra parte da polêmica consiste nas qualidades literárias do escritor, manifestada por alguns críticos literários. O fato é que, por despertar tantas paixões, já vale a pena ler o livro...     

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