sexta-feira, 24 de maio de 2013

O preconceito anda nu

O padrão vigente associa o binômio rótulo/aparência. O médico tem que andar de branco; o padre, de batina; o advogado, necessariamente, de terno; mecânico que não usa macacão não é mecânico; homem deve usar calça e mulher saia. Ir de encontro a esse padrão pré-estabelecido significa sofrer todo tipo de preconceito, desde o mais leve olhar até ofensas verbais, podendo chegar à violência física.
Que o diga o estudante do curso de Têxtil e Moda da Universidade de São Paulo (USP) Vítor Pereira (na foto à esquerda), que decidiu ir à universidade vestindo saia e recebeu ofensas pelo Facebook. Situação análoga passou, em 2011, outro estudante, Augusto Paz (na foto à direita), que foi para a faculdade de saia como parte de um trabalho acadêmico da disciplina sociologia da moda. Em solidariedade ao estudante hostilizado na semana passada, colegas da USP resolveram fazer um “saiaço”, no último dia 16, indo para a universidade trajando a vestimenta.
É lamentável que uma pessoa seja hostilizada apenas por se vestir de forma não convencional. Vale lembrar que nenhum padrão de comportamento é eterno e imutável e que as mulheres tiveram que enfrentar situações semelhantes quando resolveram usar... calças. No que diz respeito à vestimenta, as convenções variam de época ou lugar. Homens usavam túnicas semelhantes a saias na Grécia Antiga, hábito herdado pelos romanos antigos. Na Idade Média, as roupas masculinas das classes mais pobres incluíam saiotes que vinham os joelhos. Até hoje os escoceses tem um saiote masculino chamado kilt. A diferenciação da vestimenta (homem/calça; mulher/saia) só se define no século XVIII e começa a ser questionada pelas mulheres no século XX quando estas resolvem usar calças, seara masculina.

Mas, como bem disse o professor psicologia política e de sociedade Alessandro Soares da Silva, a reação agressiva e anônima na internet é reflexo de “uma sociedade que educa para a enfermidade”, onde todos aqueles que não se enquadram no rótulo/aparência devem ser estigmatizados e rejeitados, pois são inferiores. Falta educação doméstica que ensine a respeitar a diversidade, o diferente, o não convencional. Falta-nos despir de todo o preconceito e deixa-lo andar nu...

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