sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Brasil na copa e na cozinha

Adoro futebol. Adoro Copa do mundo. Mas não queria que ela fosse realizada no Brasil. E para quem me pergunta se vou torcer pelo Brasil, respondo que sempre torço pelo Brasil, mesmo chegando, às vezes, ao limite da descrença. Mas pela Seleção Brasileira, definitivamente, não vou torcer. E não me venha com aquele papo de que a “Seleção é o Brasil”. Não é! Nada contra os atletas que estão tentando “ganhar a vida”, como eu e tantos milhões de brasileiros, mas a Seleção Brasileira não é o Brasil.
 Não dá para ficar extasiado com a Seleção enquanto um bando de oportunista está “colocando no nosso”. Não dá para ficar ufanamente torcendo pela “seleção canarinho” enquanto um bando de aves de rapina tenta tirar proveito da festa. Definitivamente, não dá para oferecer um churrasco para meus 100 melhores amigos enquanto o telhado está cheio de goteiras, o banheiro está com infiltração, a energia está para ser cortada, as mensalidades da escola das crianças estão atrasadas, o carro está para ser tomado pelo banco e a hipoteca da casa venceu há dias.
E razões não me faltam para abandonar a seleção em momento tão “importante”. No mês passado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou PEC 63 que cria um adicional de 5%, aplicado a cada cinco anos, para todos os magistrados brasileiros. Isso significa que os “homens de toga” passarão a ganhar acima do teto constitucional, que é de R$ 29,4 mil. Um Juiz federal em início de carreira que hoje recebe R$ 23.900 passaria a receber, no final da carreira, R$ 32.400. Os ministros do Supremo chegariam a receber R$ 40.000 mensais. A alta, defendida através de uma nota técnica enviada aos senadores pelo novo herói nacional, o ministro Joaquim Barbosa, o “Batman Tupiniquim”, representa um impacto somente para União, de R$ 450 milhões por ano.
Gostoso de ouvir foi a justificativa dada pelo o autor da PEC, o senador Vital de Rêgo (PMDB-PB). Segundo ele, a carreira da magistratura federal “não tem sido atrativa”, uma vez que dos 22 mil cargos à disposição, menos de 17 mil foram preenchidos. Se um cargo cujo salário de R$ 23.900 não é atrativo, o que dizer da carreira de magistério, cujo piso é de menos R$ 1.700? Mas ninguém fala em criar um “subsídio” para tornar a carreira mais atraente. Não é de espantar que estejamos em penúltimo lugar num ranking global de educação. Se fosse uma Copa do Mundo, teríamos ficado nas eliminatórias!
E não é só a carreira do magistério que está entregue à própria sorte. Ser médico na rede pública no Brasil é uma profissão de risco. Falta tudo, de gaze à balança, de esparadrapo à medicação. Só não falta paciente! A população brasileira está doente de espírito, de mente e corpo.
O Brasil é o país onde quem tenta trabalhar decentemente não encontra condições favoráveis. O Brasil é o país onde compra de votos vem disfarçado de programa social, um verdadeiro culto à vagabundagem. O Brasil é o país onde analfabeto termina o ensino fundamental, talvez o ensino médio também. O Brasil é o país onde as mazelas campeiam, mas estrangeiro não pode falar mal da “pátria de chuteiras”, sob pena de ter que pedir desculpas publicamente. Desculpas por quê? Por que falou a verdade?   
A embaixada alemã lançou uma cartilha em que aconselha seus cidadãos em visita ao Brasil durante a Copa a andar com um pouco dinheiro destinado à “rendição voluntária”, ou seja, o dinheiro do ladrão. Pior para nós, que temos que separar todos os meses uma quantia para o “saqueador oficial”, o governo, para que ele possa manter o seu assistencialismo inócuo.
E ainda nem cheguei aos gastos com a Copa. Mas vamos lá! Segundo dados oficiais, a Copa vai custar R$ 25,6 bilhões. Somente com os estádios que irão sediar jogos do mundial, foram R$ 7,09 bilhões. O restante foi gasto com infraestrutura e segurança pública(!). Não seria mais negócio termos “engordado” com esse dinheiro o orçamento da educação, que é de R$ 42,2 bilhões para 2014? Ou o da saúde, que é de R$ 82,5 bilhões para esse ano? 
Sem contar as prováveis ilicitudes que dever ter ocorrido com recursos tão volumosos. Escrevam o que estou dizendo: terminada a Copa, pois antes seria muita falta de patriotismo, vão “pipocar” escândalos relacionados à malversação desses recursos. Muito agente público fez um “pé-de-meia” com construção e reforma de estádios e ampliação de aeroportos. Não torço pela seleção, mas torço para está redondamente (sem trocadilhos!) enganado.
Definitivamente, é impossível pensar na copa se não conseguimos nem lavar a louça da cozinha.   


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