quinta-feira, 22 de abril de 2010

De Gutemberg a jobs

No início do mês, a Apple lançou, nos Estados Unidos, o iPad, um misto de notebook, leitor de livros digitais e terminal móvel de acesso à internet. Estima-se que 1 milhão de unidades serão vendidas até junho. De imediato, perguntou-se se isso representaria o fim do livro impresso. Desde a invenção da prensa móvel, no século XV, pelo alemão Johannes Gutemberg(ou até mesmo antes dele, uma vez que o livro já existia, só não era impresso), que o livro de papel enfrenta desafios e, no entanto, não se extinguiu. No século XIX, surge a revista, cujo mercado se expande violentamente no século XX. Ainda no final do século XIX, surge o rádio, que também se expande no século XX. É também no século XIX que surge o cinema e que também se expande no século XX. E o que falar da internet? Muitos decretaram a morte do livro de papel! Outros chegaram a encomendar a missa de 7º dia.
Acredito firmemente que, apesar do lançamento do iPad, não será dessa vez. Esse representará mais um desafio ao livro de papel. Juergen Boos, diretor da Feira de Frankfurt, o maior e mais importante evento do mercado mundial de livros, afirmou que “há uma forte conexão física entre o leitor e o livro”. Concordo plenamente com ele!! A relação entre o amante da tecnologia e o produto é efêmera, fria, interesseira, pragmática. O individuo acessa a internet em busca de uma informação rápida que atenda a seus interesses mais imediatos. Alcançado o objetivo, ele de imediato desconecta-se. É uma relação sem cheiro, sem tato, sem ritual.
A relação entre o leitor e o livro é completamente diferente. É ritualística! O bibliófilo entra numa livraria ou numa biblioteca como quem entra num templo. O contato com o livro é mágico, envolve três sentidos: olfato, tato e visão. Não basta apenas ler! Tem que sentir o cheiro do livro. Folheá-lo página a página, como se fosse um baralho, provocando aquele ventinho que trás o cheiro de papel nariz à dentro. O amante do livro não compra um livro apenas para ler. Ter o livro em sua estante, mesmo sem nunca lê-lo é o suficiente. Ter uma obra rara, autografada pelo próprio autor já é um sonho, alcançado por poucos. O outro motivo pelo qual o livro não sucumbirá diante das novas tecnologias é mais prosaico: livro vende. Prova disso são os novos títulos lançados diariamente pelas editoras. Prosaico ou nobre, o importante é que não faltam motivos para que o livro continue o mesmo, com ou sem tecnologia.

Um comentário:

  1. Embora concorde contigo quanto a maravilhosa conexão quase mística que se pode ter com o livro físico, eu imagino que dentro em breve os livros de papel acabarão sim, pois olha a quantidade de papel e tinta que se gasta, gastos com transporte, espaço físico, distribuição e etc. Não apenas é mais barato o livro digital, ele é mais ecologicamente correto e muito mais prático.

    O que mantinha o leitor apegado ao livro de papel era o fato de poder ser manuseado, poder se levar a qualquer lugar, ler deitado, etc. Ninguem gosta de ler sentado na frente de um computador, cansa a vista. Porém com o Kindle, Ipad e Netbooks, este empecilho está acabando, e como é lei na natureza, aquilo que pode ser substituido por uma versão mais barata, mais ecologica, mais rápida, que demanda menos complicações, sempre se transmuta. Acho até que dentro em breve o livro digital será gratuito, como acontece com a música (mesmo tendo direitos autorais envolvidos, qualquer um baixa musica de graça, e quem paga são os anunciantes e não os compradores).

    Não se pode brecar o progresso, o futuro sempre chega, queiramos ou não, rs. Mas concordo contigo que cheiro de livro é algo mágico. Seu blog tá muito legal, sempre passo pra dar uma lida, abração!

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