Eu cresci ouvindo falar em seca.
Entrei na universidade no inicio dos anos 90 e estudei que ela castiga o
nordestino desde o período colonial e
tem seus efeitos multiplicados por causa do que se convencionava chamar de
“Indústria da seca”. Lá se vão cerca de 30 anos e a história não mudou: o
nordeste está passando por um novo período de estiagem e os efeitos são
exatamente os mesmos. Nada mudou com a experiência e com as tecnologias criadas
nas últimas quatro décadas. Os animais continuam morrendo de sede, o milho não
“emboneca”, a lavoura perece, o sertanejo tem que andar quilômetros para
encontrar água barrenta, o riacho seca e por aí vai.
Conclui-se que a seca continua a
mesma por que não há interesse de políticos locais em acabar com ela. E as
noticias que vem de lá confirmam isso. Em Pernambuco, que tem 66 municípios em
estado de emergência, os “pipeiros”, muitos deles candidatos a vereador, que se
aproveitam da situação para ganhar votos. Outro fato estarrecedor é o desvio de
água por parte de grandes produtores para abastecer suas lavouras e até mesmo
para abastecer um tanque com 50 mil peixes em Ouricuri. A Compesa (Companhia
Pernambucana de Saneamento) tem feito operações para conter esses desvios com
uso até de helicópteros.
Na Bahia, 234 municípios
decretaram estado de emergência. No Piauí, 152 estão sendo atingidos pela
estiagem, que dura desde julho do ano passado. Para minorar os efeitos da seca,
o Governo Federal liberou R$ 2,7 Bilhões e anunciou o Bolsa Seca, no valor de
R$ 400,00. O que se questiona é: qual será o destino desse recurso? O mesmo da
água, que beneficia uns poucos apaniguados? Será, também com a água, moeda de
troca por voto?
Durante o governo Lula, surgiu o
projeto de transposição do rio São Francisco, que gerou histeria em setores da
intelectualidade e até greve de fome de um padre ribeirinho. Não sei em que pé
está o projeto, mas é uma das soluções para amenizar o problema. Outra solução
seria a construção de poços artesianos nas regiões historicamente assoladas
pela seca. Pode ser oneroso, mas bem menos do que a miséria gerada pela falta
d’água. A solução pode não vir de cima, mas de baixo, basta querer olhar para o
lugar certo.
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