quarta-feira, 9 de maio de 2012

Criação – Gore Vidal


O escritor americano Gore Vidal sempre esteve dividido entre a literatura e a politica. Em 1960, chegou a concorrer ao Congresso americano, sem sucesso, e escreveu sete romances que tinham a pretensão de ser uma biografia dos Estados unidos, onde Gore expunha seu pensamento político. Além dos romances com alto teor político, Gore também se destaca pelos romances históricos. É o caso de Criação (1981), romance que se passa na Pérsia 445 a.C. e tem como personagem principal Ciro Espítama, neto de Zoroastro, que aos oito anos, presenciará o assassinato do avô profeta, o que influenciará toda sua vida. Estimulado pelo sobrinho, nada menos do que Demócrito de Abdera, o filósofo pré-socrático, narrará toda a sua vida, que resulta no próprio livro.
O fato de ter testemunhado a morte do avô profeta faz com que ele e sua mãe se tornem protegidos do rei Dario, da Pérsia. Como neto de Zoroastro, deveria ser sacerdote, mas é educado segundo a disciplina militar persa e trona-se embaixador, viajando para a Índia e para Catai (atual China) em missão diplomática. Na Índia casa, tem filhos e conhece Buda, com quem trava diálogos e compara a doutrina indiana com o zoroastrismo, a doutrina do seu avô. Ao retornar à Pérsia, Ciro torna-se “amigo do rei”, um cargo de prestígio. Após a morte de Dario, ascende ao trono o filho deste e amigo de infância de Ciro, Xerxes, que o manda em missão para Catai. Lá, conhece Confúcio e a doutrina chinesa e, mais uma vez, fará comparações com o zoroastrismo.          
É um livro fruto de minuciosa pesquisa histórica, que permite ao leitor reconstruir mentalmente a época e imaginar o cotidiano das pessoas que viveram no século V a. C. em três grandes civilizações da antiguidade: a Pérsia, a Índia e a China. Não apenas isso. Gore Vidal nos coloca diante de três sistemas filosóficos que trazem questões até hoje discutidas: a liberdade, a justiça, a morte, a existência ou não da alma e a sua imortalidade. É um livro que, em alguns momentos fica denso, pesado, mas que vale a pena ler e deliciar-se com os diálogos entre os personagens históricos e Ciro, um personagem que nasceu da genialidade de Gore Vidal.  

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