quarta-feira, 23 de maio de 2012

O centenário de Nelson Rodrigues


Agora em agosto o dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues faria cem anos. Nascido em Pernambuco, era o mais carioca dos nordestinos, pois se mudou para o Rio de Janeiro aos quatro anos, por causa de problemas políticos enfrentados pelo pai. É do cenário da sua infância, onde imperava as solteironas ressentidas, as viúvas tristes e vizinhas fofoqueiras, que Nelson tirou os personagens da sua vida literária. Aos quatro anos, Nelson foi proibido de frequentar a casa da vizinha por ter sido flagrado por ela aos beijos com sua filha de três anos. Aos sete, redigiu uma redação para um concurso na escola. Tema: adultério. Apesar do desconforto entre os professores, foi impossível não reconhecer as qualidades do texto. A professora, para não ter que ler a redação na sala, inventou um empate e leu a outra composição.
Aos catorze, foi expulso da escola por contestar os professores, principalmente os de português e história. Por essa época já trabalhava como repórter de policia no jornal do pai, o A manhã. Chamava a atenção de todos a forma dramática como Nelson relatava os crimes que ele cobria. Em 1927, abandona a escola para nunca mais voltar, para desespero do pai. Em 1928 passa a ter uma coluna própria, perdendo-a logo depois por fazer sérias críticas a Ruy Barbosa. No mesmo ano, seu pai perde o jornal, afundado em dívidas.
Menos de dois meses depois, Mário, pai de Nelson, funda outro jornal, Crítica.  Em dezembro de 1929 o jornal publica uma noticia sobre a separação de Sylvia e José Thibau Jr, membros da alta sociedade carioca. No dia seguinte, Sylvia entra na redação e não encontrando Mário, dá um tiro em Roberto, irmão de Nelson, que presencia tudo. Roberto morre no dia seguinte. Mário Rodrigues morre 67 dias depois, aos 44 anos, de derrame cerebral. A revolução de 30, de quem os Rodrigues foram ferrenhos opositores, vai deixa-los numa situação financeira delicada.
Em 1934, é diagnosticada uma tuberculose, o que o obriga a ficar catorze meses num sanatório. Em 1936, seu irmão, Jofre, morre da mesma doença. Em 1940 casa com Elza, colega do jornal O Globo. Foi a situação de penúria financeira (Elza pediu demissão a pedido de Nelson e estava grávida) que fez Nelson começar a escrever para o teatro. Em 1941, escreve sua primeira peça, A mulher sem pecado, que só viria a ser encenada em 1942 sem nenhuma repercussão. Em 1943, escreve Vestido de noiva, que estreou no final do mesmo ano com estrondoso sucesso. O sucesso trouxe consigo um novo emprego na revista O cruzeiro. Lá passou a escrever um folhetim, surgindo daí, Susana Flag e Meu destino é pecar.
Daí em diante, Nelson conheceu o sucesso como escritor e dramaturgo. Foram várias peças: Anjo negro, Senhora dos afogados, Beijo no asfalto, entre outras. Nelson se notabilizou por ser um frasista, um aforista. Seus alvos preferidos eram as mulheres (“O ginecologista é o adultério da mulher fiel”, “Toda mulher bonita é um pouco namorada lésbica de si mesma”), o amor e o casamento (“Dinheiro compra até amor verdadeiro”, “O marido traído não dever ser o último a saber. Ele não deve saber nunca!”, “Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de ouro”).
Durante a ditadura militar, que Nelson apoiava, seu filho foi preso. Depois de vários dias desaparecido nos porões da repressão, ele foi encontrado pelo pai, que usou da sua influência para encontrar o filho. Estava bastante machucado em função das torturas sofridas. Os militares queria que Nelson fosse à imprensa dizer que seu filho fora encontrado e não fora torturado, numa tentativa de convencer a opinião pública de que no Brasil não havia tortura. Nelson foi a imprensa e disse: “encontrei meu filho. Ele está vivo.” Nelson morreu em no dia 21 de dezembro de 1980, no mesmo dia em que acertou os treze pontos na loteria esportiva.  

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