Agora em agosto o dramaturgo,
jornalista e escritor Nelson Rodrigues faria cem anos. Nascido em Pernambuco,
era o mais carioca dos nordestinos, pois se mudou para o Rio de Janeiro aos
quatro anos, por causa de problemas políticos enfrentados pelo pai. É do
cenário da sua infância, onde imperava as solteironas ressentidas, as viúvas
tristes e vizinhas fofoqueiras, que Nelson tirou os personagens da sua vida
literária. Aos quatro anos, Nelson foi proibido de frequentar a casa da vizinha
por ter sido flagrado por ela aos beijos com sua filha de três anos. Aos sete,
redigiu uma redação para um concurso na escola. Tema: adultério. Apesar do
desconforto entre os professores, foi impossível não reconhecer as qualidades
do texto. A professora, para não ter que ler a redação na sala, inventou um
empate e leu a outra composição.
Aos catorze, foi expulso da
escola por contestar os professores, principalmente os de português e história.
Por essa época já trabalhava como repórter de policia no jornal do pai, o A manhã. Chamava a atenção de todos a
forma dramática como Nelson relatava os crimes que ele cobria. Em 1927,
abandona a escola para nunca mais voltar, para desespero do pai. Em 1928 passa
a ter uma coluna própria, perdendo-a logo depois por fazer sérias críticas a
Ruy Barbosa. No mesmo ano, seu pai perde o jornal, afundado em dívidas.
Menos de dois meses depois,
Mário, pai de Nelson, funda outro jornal, Crítica.
Em dezembro de 1929 o jornal publica
uma noticia sobre a separação de Sylvia e José Thibau Jr, membros da alta
sociedade carioca. No dia seguinte, Sylvia entra na redação e não encontrando
Mário, dá um tiro em Roberto, irmão de Nelson, que presencia tudo. Roberto
morre no dia seguinte. Mário Rodrigues morre 67 dias depois, aos 44 anos, de
derrame cerebral. A revolução de 30, de quem os Rodrigues foram ferrenhos
opositores, vai deixa-los numa situação financeira delicada.
Em 1934, é diagnosticada uma
tuberculose, o que o obriga a ficar catorze meses num sanatório. Em 1936, seu
irmão, Jofre, morre da mesma doença. Em 1940 casa com Elza, colega do jornal O Globo. Foi a situação de penúria
financeira (Elza pediu demissão a pedido de Nelson e estava grávida) que fez
Nelson começar a escrever para o teatro. Em 1941, escreve sua primeira peça, A mulher sem pecado, que só viria a ser
encenada em 1942 sem nenhuma repercussão. Em 1943, escreve Vestido de noiva, que estreou no final do mesmo ano com estrondoso
sucesso. O sucesso trouxe consigo um novo emprego na revista O cruzeiro. Lá passou a escrever um
folhetim, surgindo daí, Susana Flag e Meu destino é pecar.
Daí em diante, Nelson conheceu o
sucesso como escritor e dramaturgo. Foram várias peças: Anjo negro, Senhora dos afogados, Beijo no asfalto, entre outras.
Nelson se notabilizou por ser um frasista, um aforista. Seus alvos preferidos
eram as mulheres (“O ginecologista é o adultério da mulher fiel”, “Toda mulher
bonita é um pouco namorada lésbica de si mesma”), o amor e o casamento (“Dinheiro
compra até amor verdadeiro”, “O
marido traído não dever ser o último a saber. Ele não deve saber nunca!”, “Só o
cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de ouro”).
Durante a ditadura militar, que
Nelson apoiava, seu filho foi preso. Depois de vários dias desaparecido nos
porões da repressão, ele foi encontrado pelo pai, que usou da sua influência
para encontrar o filho. Estava bastante machucado em função das torturas
sofridas. Os militares queria que Nelson fosse à imprensa dizer que seu filho
fora encontrado e não fora torturado, numa tentativa de convencer a opinião
pública de que no Brasil não havia tortura. Nelson foi a imprensa e disse:
“encontrei meu filho. Ele está vivo.” Nelson morreu em no dia 21 de dezembro de
1980, no mesmo dia em que acertou os treze pontos na loteria esportiva.
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