Ano passado li Neve, o romance político de Orhan Pamuk
e escrevi sobre ele num post de 16 de
novembro do ano passado. A leitura dessa obra do Nobel de 2006 me estimulou a
buscar outras de suas obras. Por isso me debrucei sobre O livro negro, lançado na Turquia em 1990, mas traduzido para o
inglês somente em 2006. Como diz o próprio autor esse “não é o mais popular”
dos seus livros, mas é “o mais querido” por ele. O fato de não ser o mais
popular dos livros de Pamuk se explica por ser ele uma obra de estrutura
complexa e narrativa experimental.
O livro começa com o
desaparecimento de Ruya, esposa e prima do jovem advogado Galip, deixando-lhe
um bilhete. Começa então a busca desesperada de Galip, pelas ruas de Istambul,
para achar a sua esposa. A narração da busca de Galip é entremeada pelas
crônicas do célebre jornalista Celâl selik, meio irmão de Ruya e também primo
de Galip. Celâl vive escondido e escreve sobre todos os temas, da política à
celebridades de cinema, passando por religião, gângsteres e reminiscências
familiares. O que parecia um romance policial, logo percebe-se que é uma
representação de um grande quebra-cabeças metafísico.
Ao mesmo tempo em que busca
desesperadamente a sua esposa, Galip acompanha a vida de Celâl através de suas
crônicas. Isso acaba desintegrando a sua personalidade e transformando-o no
próprio Celâl. É a partir desse fato inusitado que o autor discute um dos
principais argumentos do livro: “Existe algum modo de um homem ser apenas quem
é?” logo depois, o próprio autor dá uma
pista: “(...) o único meio de transformar-se em si mesmo é primeiro ser um
outro, ou então perder-se nas histórias contadas por um outro (...).” Um livro
que exige uma certa dedicação do leitor
para tentar elucidá-lo, mas que vale a pena ser lido.
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