Josué Montello (1917-2006) foi um jornalista, professor, teatrólogo e escritor maranhense. Era um mestre no romance histórico, passado, invariavelmente em cenários do seu estado natal. Há uma década, aproximadamente, li Os tambores de São Luís (1975), uma narrativa na terceira pessoa que se dá de um anoitecer até o amanhecer. Porém, é uma jornada épica que conta a vida do personagem Damião, desde quando chegou ao Brasil, ainda criança, num navio negreiro, passando pela sua adolescência e chegando a fase adulta sofrida com a escravidão. O autor apresenta todo o ambiente cultural do século XIX através do perfil de dezenas de personagens que se cruzam.
Há dois anos li A vida eterna do major Taborda (1981), a divertidíssima história do major que, mesmo beirando os cem, não ver a morte lembrar-se dele. Do alto de sua experiência temporal e tendo visto duas guerras, andado de automóvel e apreciado moças vestindo biquínis, persistia nele uma dúvida: ou ele ou seus semelhantes haviam enlouquecido. A prosa elegante e a narrativa excepcional de Montello não dão sinais de arrefecimento mesmo quando ele abandona o romance histórico e se dedica a enredos modernos.
Recentemente li A mulher proibida e Enquanto o tempo não passa, ambas de 1996. Na primeira obra, há o conflito entre duas gerações: a do pai viúvo, ainda moço, e a da filha única, envolta pela permissividade de sua própria geração. Acrescente-se a isso o conflito interior em que vive o personagem, cuja filha, já crescida e bela, não é legítima. Enquanto o tempo não passa, tem um personagem central que é herói e vítima. Ao mesmo tempo, Montello expõe o problema da depressão e a luta da medicina para desvendar os mistérios do cérebro humano. Indiscutivelmente, o presidente da Academia Brasileira de letras entre janeiro de 1994 e dezembro de 1995 é um gênio das palavras.
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