Na esteira do sucesso da Flip (a Feira
Literária de Paraty) as feiras literárias viraram uma febre Brasil afora e
transformaram-se numa forma dos escritores ganharem um a mais. Até aí tudo bem,
afinal o mercado editorial tem que sobreviver. Mas os coordenadores da Feira
Literária de Bento Gonçalves (RS), que é organizada pela prefeitura local, exageraram. Eles acertaram um cachê de R$ 170 mil com o
rapper e autor de literatura infantil Gabriel o Pensador. Até aí, mais uma vez, tudo bem. Mas depois
fecharam, alegando limitações orçamentárias, com o poeta e frasista Fabrício Carpinejar
e outros escritores o pagamento de apenas R$ 1 mil por suas participações no
evento.
Parece brincadeira, mas é
verdade. De pronto Carpinejar, em carta aberta, cancelou a sua participação no
evento. Eu faria o mesmo. Mas há uma explicação para tanta disparidade nos
cachês. Com a banalização das feitas literárias, os organizadores sentem a
necessidade de colocar “iscas”, para atrair grandes públicos. Gabriel é essa
“isca”. A suposição é que parte do público, como migalhas que caem de um
banquete, chegará até as atrações menos dotadas de “celebridade”. Esse é o caso
de Carpinejar.
Não é que Carpinejar e os outros
escritores não tenham talento, nem que a literatura esteja fadada à derrota,
apenas ela exige ser avaliada por outros critérios. O prefeito de Bento
Gonçalves, Roberto Lunelli (PT), justifica o cachê dizendo que a presença do
rapper serviria de estímulo à leitura entre os jovens. Tenho minhas dúvidas. Me
causa estranheza colocar Gabriel o Pensador como um grande nome no meio
literário.
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