O escritor baiano Jorge Amado se
notabilizou, até a primeira metade dos anos 50, por ser um intelectual
politicamente engajado. Por causa desse engajamento político, viveu no exílio
no Uruguai e na Argentina entre os anos de 1941 e 1942, na França entre 1948 e
1950, e em Praga entre os anos de 1951 e 1952. Foi eleito deputado constituinte
pelo Partido comunista Brasileiro (PCB) em 1945, sendo posteriormente cassado.
Em 1951, escreveu Um munda da paz, livro
de viagem que exalta as proezas de
Stálin e dos países do Leste europeu, então sob incluência soviética. Em 1954,
escreveu Os subterrâneos da liberdade, uma
obra de ficção formatada na estética do realismo socialista. Depois disso
passou quatro anos sem escrever.
Em 1958, lançou Gabriela, cravo e canela, um livro completamente
diferente dos precedentes. E a partir daí a literatura de Jorge Amado seria
completamente distante do engajamento político, seria mais viva, colorida e
exuberante. A pergunta é: o que aconteceu entre os anos de 1954 e 1958 para
promover uma mudança tão radical na forma de escrever do escritor baiano? Esse
é um dos maiores mistérios da literatura brasileira. Especula-se que tenha sido
as denúncias dos crimes de Stálin pelo líder soviético Nikita Kruschev, em
1956. Mas Jorge Amado nunca entrou em detalhes sobre a sua desilusão com o
comunismo.
As esperanças para que esse
mistério fosse deslindado estava em Toda
saudade do mundo: a correspondência de Jorge Amado e Zélia Gattai. Do exílio
europeu à construção da casa do rio vermelho, lançado no mês passado (e que
eu ainda não li) e organizado pelo filho do casal, João Jorge Amado, que traz
cartas inéditas escritas entre 1948 e 1967. Mas o livro pouco contribui para
resolver o mistério: os temas das cartas são, na sua maioria, sobre assuntos
pessoais, e o escritor, temendo a censura, usava códigos para tratar de
assuntos mais “delicados”.
Mas se o livro não soluciona o
mistério da conversão de Jorge, pelo menos tem outro atrativo: o volume revela
textos inéditos do escritor, como dezenas de páginas de Bóris, o vermelho, que estava sendo escrito quando ele morreu. A
boa notícia mesmo é que, mesmo sem revelar os motivos, Jorge Amado deixou de
ser comunista para se tornar um escritor melhor.
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