O escritor americano Jonathan
Littell levou cinco anos para escrever As
benevolentes, seu primeiro romance. Com 896 páginas, se tornou de imediato
um fenômeno literário na França, vendendo mais de 700 mil exemplares, e
candidatíssimo a tornar-se um clássico da literatura contemporânea. E com
razão! Quem não desanimar com o tamanho
do livro se deparará com uma ousada reflexão sobre a natureza do mal, conduzida
por Maximilien Aue, um fictício oficial da SS nazista. Filho de pai alemão, que
abandonou a família, e mãe francesa, Aue é culto e bissexual.
Em meio às narrativas das monstruosidades
que presencia, faz questão de distanciar-se da barbárie: “Não pedi para me
tornar um assassino; se pudesse escolher, optaria pela literatura”. Nesse
ponto, o autor cria duas polêmicas: a primeira era que os oficiais alemães
apenas cumpriam ordens superiores para matar os judeus, havendo na ocasião uma
banalização do mal. Essa versão foi cansativamente usada pelos nazistas durante
seus julgamentos após a guerra para escapar das punições. Na outra polêmica, o
autor deixa claro que não eram apenas os alemães que massacravam os judeus. Era
comum a participação de ucranianos nas execuções.
O livro é dividido em sete partes com nomes
musicais, numa alusão à paixão dos nazistas pela música clássica. Personagens
fictícios, como o próprio Aue convivem com personagens históricos como o
arquiteto da “solução final”, Heinrich Himmler, com quem o narrador trabalhou, Adolf
Hitler, Adolf Eichmann, Rudolf Hess. Aue altera momentos de lucidez crua e
devastadora ao falar de seus sentimentos, com momentos de delírios, como quando
ele imagina que está vendo Hitler discursando vestido com acessórios
judaicos.
As benevolentes foi alvo de pesadas críticas em jornais como o New York Times e o Financial Time, que usaram termos como “pretencioso” e “arrogante”
para descrever o livro. Disseram também que o autor usou “parágrafos
mastodônticos” para descrever “grotescas fantasias sexuais do personagem”. Sem
dúvidas que os parágrafos longos (alguns chegam a ter seis, oito páginas)
tornam a leitura cansativa, mas isso não torna a obra “arrogante”. Sem dúvidas
que o livro poderia ter metade das páginas e não comprometeria nem o enredo nem
a grandeza da pesquisa feita pelo autor. Sem dúvidas que as fantasias do
personagem são grotescas, mas elas não são um fim, mas um meio para mostrar uma
mente doentia de alguém que fez parte de um sistema doentio que provocou uma
guerra desumana. As benevolentes é
leitura obrigatória!
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