O volume 8 da revista Granta em português traz quinze textos e
um ensaio fotográfico do fotógrafo e diretor de cinema Walter Carvalho (diretor
de fotografia de filmes como lavoura
arcaica, Central do Brasil e Abril despedaçado). Essa edição reúne autores
nacionais e estrangeiros, uns já consagrados, como Salman Rushdie, Doris
Lessing e Julian Barnes, outros ainda não conhecidos, do grande público, como a
chinesa Yiyun Li e a italiana Michela Murgia. Todos os textos giram em torno do
tema “trabalho”, seja como fonte de prazer ou de glória, como fator de
empobrecimento humano ou como um mal necessário.
A edição abre com um ensaio de
Salman Rushdie sobre a preguiça, o estremo oposto do trabalho, e por isso mesmo
se encaixa bem na coletânea. No texto, Rushdie discorre sobre o tema como um
dos sete pecados capitais, faz uma breve análise da obra de Fellini e questiona
os personagens de Willian Shakespeare. O segundo texto é um trecho do novo
livro de Bernardo de Carvalho, Como me
tornei censor, a ser lançado ainda esse ano, onde o personagem descreve a
sua enfadonha rotina de ler cartas alheias. Magnífico o texto de Marcello Froés,
Whipping boy, que trata de tarefas que ninguém quer exercer,
como a de pisciatoruim (banheiro ambulante nos estádios). Uma tarefa, segundo o
autor, de “alta densidade histórico-literária”.
Destaque para o texto do irlandês
Colun McCann, onde ele conta o dia em que conheceu o jornal em que seu pai
trabalhava. A intenção paterna era convencer o filho a não ser jornalista. Não
deu certo. Muito bom o texto do bósnio Aleksandar Hemon, em que ele fala como
ficou retido nos EUA no dia em que começou a guerra em seu país, em 1992, e de
seus contatos com outros imigrantes, tendo como elo o futebol. Em suma, são
diferentes abordagens para entender o mesmo tema, o trabalho e seus congêneres
e opostos. Uma bela maneira de ter contato com vários autores ao mesmo tempo em
textos curtos, mas saborosos.
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