Acordei
invocado porque me lembrara do pesadelo.
Tinha
morrido e reaparecido num limbo azulado imerso em nuvens espessas. Pensei:
então existe um pós-morte? Pequepê… Mas de repente a neblina se dispersou em
uma região e, ali, surgiu a cara de um velhinho de barba. Gigante e severo:
—
Shhhhhhhhh… sabe quem eu sou? — disse com voz retumbante e ameaçadora.
—
O Deus do Velho Testamento, eu presumo. — respondi, sincero.
—
SIM. E por que não acreditaste em mim?
Abri
os braços:
—
Ausência de evidências, Senhor, ausência de evidências…
E
foi então que fiquei sabendo, diretamente da Boca Divina que, na verdade, a
mudez metafísica do universo infinito nada mais é do que um teste. Um plano
divino elaborado para os seres humanos, para separar o joio do trigo, para Deus
poder selecionar os seus.
É
tudo um estrategema para analisar o quão crédulo e estúpido pode ser o homem.
Desta forma, os supersticiosos, os espíritas, os crentes, os beatos e demais
almas carneiras terminam a passagem da vida reprovados, pois optaram pelo
caminho diabólico do consolo, da esperança, da preguiça mental e da submissão.
Já os infiéis, apóstatas, hereges, ateus —, mesmo alguns ateus que se proclamam
agnósticos por falta de personalidade — esses cumpriram a vocação humana da
dúvida e assim ascenderam ao estado de graça, realizando o projeto ultraterreno.
E
Deus mesmo, Ele me contou, não deseja que os ímpios inaugurem uma Igreja em seu
nome. Pelo contrário, tem horror a isso. Explicou-me que os espíritos livres,
em geral, tendem a não obedecer a sistemas de autoridade moral, e pensam por si
mesmos sobre os mistérios e desafios do universo.
—
Como Eu queria que fosse! imaginar um rebanho de ateus é tão absurdo quanto
tentar formar um rebanho de gatos — animais independentes e de personalidade,
que não costumam ir pra onde os mandam.
E
então as portas do Céu se abriram e eu entrei, franqueado por São Pedro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário