A revista VEJA dessa semana
trouxe uma entrevista com John Deasy, responsável pela rede pública de Los
Angeles, que testemunhou a favor de um grupo de estudantes que pediram na
justiça americana a revogação da lei que dificultava a demissão de professores
da rede pública do estado. Há três semanas a Suprema Corte da Califórnia deu
veredicto favorável aos estudantes. Justo, muito justo, justíssimo! Quando não
se trabalha direito, tem que ser demitido. O que me espantou não foi o
posicionamento do superintendente Deasy, mas a forma com que todos encaram sua
decisão de apoiar a causa dos estudantes. É como se demitir professor (mesmo os
incompetentes) fosse uma heresia.
Aqui no Brasil, demitir professor
é um pecado equivalente ao de enxugar a louça do jantar com o Santo Sudário. Mas
é compreensível esse “medo” em demitir professor que não trabalha direito, seja
por incompetência ou má vontade. Afinal, quem vai substituir um profissional
que é obrigado a trabalhar em mais de um lugar para complementar a renda (60%,
segundo pesquisa feita pela OCDE)? Quem vai querer preencher a vaga do demitido
que tem um piso salarial de pouco mais de R$ 1.700,00? Quem vai querer ser um
profissional que é visto como um pobre coitado pela sociedade (e exatamente por
causa disso, hesitar tanto em demiti-los)?
Na lógica tupiniquim é melhor um
medíocre do que nenhum. Sem contar que se fôssemos demitir todos os professores
incompetentes, com má formação acadêmica ou com má vontade para o exercício do
magistério a educação pararia por falta de quórum.
Mas essa “incapacidade” vista em
muitos profissionais em educação é culpa exclusivamente do profissional? Nem
sempre! No Brasil, a educação só é encarada como algo fundamental para o
desenvolvimento do país nos discursos proferidos por autoridades, intelectuais
e artistas. Na prática, o que vemos é uma educação como um “mundo de faz de
conta”. O professor faz de conta que foi habilitado para dá aulas, quando chega
em sala de aula, faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende.
É uma situação desoladora por que
os índices oficiais mostram outro panorama, completamente diverso do que se vê
no dia-a-dia da escola. Mais de 97% das crianças de 7 a 14 anos estão
matriculados. O que quantitativamente parece bom, qualitativamente se mostra um
desastre. Aumenta-se o acesso ao ensino fundamental (o que é bom), mas não se
aumenta os espaços para a prática do ensino (o que é ruim). Resultado: salas
superlotadas onde a individualização do ensino se torna impraticável e, segundo
pesquisa da OCDE, o professor gasta 33% do tempo da aula para controlar a
turma.
O poder público quer aumentar o
acesso de todos à educação. Até aí uma atitude louvável. Mas não quer construir
escolas, contratar professores, inspetores, merendeiras, orientadores
educacionais, psicólogos, porteiros, entre outros. A consequência disso é que o
espaço destinado à cognição vira um “mundo de faz de conta” sem super-heróis
nem varinhas de condão, onde a única coisa de verdade é o baixo rendimento dos
alunos e a insatisfação de professores.
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