sexta-feira, 4 de julho de 2014

A educação no país do faz de conta

A revista VEJA dessa semana trouxe uma entrevista com John Deasy, responsável pela rede pública de Los Angeles, que testemunhou a favor de um grupo de estudantes que pediram na justiça americana a revogação da lei que dificultava a demissão de professores da rede pública do estado. Há três semanas a Suprema Corte da Califórnia deu veredicto favorável aos estudantes. Justo, muito justo, justíssimo! Quando não se trabalha direito, tem que ser demitido. O que me espantou não foi o posicionamento do superintendente Deasy, mas a forma com que todos encaram sua decisão de apoiar a causa dos estudantes. É como se demitir professor (mesmo os incompetentes) fosse uma heresia.
Aqui no Brasil, demitir professor é um pecado equivalente ao de enxugar a louça do jantar com o Santo Sudário. Mas é compreensível esse “medo” em demitir professor que não trabalha direito, seja por incompetência ou má vontade. Afinal, quem vai substituir um profissional que é obrigado a trabalhar em mais de um lugar para complementar a renda (60%, segundo pesquisa feita pela OCDE)? Quem vai querer preencher a vaga do demitido que tem um piso salarial de pouco mais de R$ 1.700,00? Quem vai querer ser um profissional que é visto como um pobre coitado pela sociedade (e exatamente por causa disso, hesitar tanto em demiti-los)?
Na lógica tupiniquim é melhor um medíocre do que nenhum. Sem contar que se fôssemos demitir todos os professores incompetentes, com má formação acadêmica ou com má vontade para o exercício do magistério a educação pararia por falta de quórum.
Mas essa “incapacidade” vista em muitos profissionais em educação é culpa exclusivamente do profissional? Nem sempre! No Brasil, a educação só é encarada como algo fundamental para o desenvolvimento do país nos discursos proferidos por autoridades, intelectuais e artistas. Na prática, o que vemos é uma educação como um “mundo de faz de conta”. O professor faz de conta que foi habilitado para dá aulas, quando chega em sala de aula, faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende.
É uma situação desoladora por que os índices oficiais mostram outro panorama, completamente diverso do que se vê no dia-a-dia da escola. Mais de 97% das crianças de 7 a 14 anos estão matriculados. O que quantitativamente parece bom, qualitativamente se mostra um desastre. Aumenta-se o acesso ao ensino fundamental (o que é bom), mas não se aumenta os espaços para a prática do ensino (o que é ruim). Resultado: salas superlotadas onde a individualização do ensino se torna impraticável e, segundo pesquisa da OCDE, o professor gasta 33% do tempo da aula para controlar a turma.
O poder público quer aumentar o acesso de todos à educação. Até aí uma atitude louvável. Mas não quer construir escolas, contratar professores, inspetores, merendeiras, orientadores educacionais, psicólogos, porteiros, entre outros. A consequência disso é que o espaço destinado à cognição vira um “mundo de faz de conta” sem super-heróis nem varinhas de condão, onde a única coisa de verdade é o baixo rendimento dos alunos e a insatisfação de professores.   
  

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