Narrado em forma de diário, A trégua, do uruguaio Mario Benedetti,
publicado em 1960, conta a história do cinquentão e viúvo Martin Santomé,
funcionário de uma importadora de autopeças e pai de três filhos adultos, com
quem tem uma relação acidentada. Passadas duas décadas da morte da esposa e a
alguns meses da aposentadoria, Martin vê sua vida se esvaindo sem que nada de
novo aconteça. Sua vida se resume às relações burocráticas no ambiente de
trabalho e com seus três filhos: Esteban, o mais arredio; Jaime, sensível e
inteligente, mas não honesto; e Blanca, a mais parecida com Martin (“Ela também
é uma triste com vocação de alegre”).
A vida de Martin toma outro rumo
com a chegada no escritório da recém contratada Laura Avellaneda, bem mais
jovem que ele e com “traços definidos, de gente leal”. É com ela que Martin
descobre que a vida não acabou, que é capaz de amar de novo e que não está “ressequido”
afetivamente, como imaginava após a viuvez. Tomando coragem para enfrentar os
colegas de trabalho e, principalmente, os filhos, estabelece uma relação
pautada na liberdade e falta de planos e de promessas com a jovem bem mais nova
e de hábitos simples.
A história de amor entre Martin,
o cinquentão, e Laura, a jovem simples, serve de pano de fundo para expor os
vários conflitos de Santomé com ele mesmo e com os outros, notadamente os
filhos. Chamo a atenção para o primor da passagem do diário em que Martin
questiona a existência de Deus: “Graças a um impulso do
coração, posso acreditar em Deus e acertar, ou não acreditar em Deus e também
acertar. E então? Talvez Deus tenha uma face de crupiê e eu seja apenas um
pobre-diabo que joga no vermelho quando dá preto, e vice-versa.”
Considerado como uma das
principais obras-primas da literatura latino-americana do século XX, A trégua é considerado a principal obra
do autor, um dos grandes nomes da literatura na América do sul. Mesmo escrito
há mais de meio século, é uma obra atual e definitiva.
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