O padrão vigente associa o
binômio rótulo/aparência. O médico tem que andar de branco; o padre, de batina;
o advogado, necessariamente, de terno; mecânico que não usa macacão não é
mecânico; homem deve usar calça e mulher saia. Ir de encontro a esse padrão
pré-estabelecido significa sofrer todo tipo de preconceito, desde o mais leve
olhar até ofensas verbais, podendo chegar à violência física.
Que o diga o estudante do curso
de Têxtil e Moda da Universidade de São Paulo (USP) Vítor Pereira (na foto à esquerda), que decidiu
ir à universidade vestindo saia e recebeu ofensas pelo Facebook. Situação
análoga passou, em 2011, outro estudante, Augusto Paz (na foto à direita), que foi para a faculdade
de saia como parte de um trabalho acadêmico da disciplina sociologia da moda. Em
solidariedade ao estudante hostilizado na semana passada, colegas da USP
resolveram fazer um “saiaço”, no último dia 16, indo para a universidade
trajando a vestimenta.
É lamentável que uma pessoa seja
hostilizada apenas por se vestir de forma não convencional. Vale lembrar que
nenhum padrão de comportamento é eterno e imutável e que as mulheres tiveram
que enfrentar situações semelhantes quando resolveram usar... calças. No que
diz respeito à vestimenta, as convenções variam de época ou lugar. Homens usavam
túnicas semelhantes a saias na Grécia Antiga, hábito herdado pelos romanos
antigos. Na Idade Média, as roupas masculinas das classes mais pobres incluíam
saiotes que vinham os joelhos. Até hoje os escoceses tem um saiote masculino
chamado kilt. A diferenciação da vestimenta (homem/calça; mulher/saia) só se
define no século XVIII e começa a ser questionada pelas mulheres no século XX
quando estas resolvem usar calças, seara masculina.
Mas, como bem disse o professor
psicologia política e de sociedade Alessandro Soares da Silva, a reação
agressiva e anônima na internet é reflexo de “uma sociedade que educa para a
enfermidade”, onde todos aqueles que não se enquadram no rótulo/aparência devem
ser estigmatizados e rejeitados, pois são inferiores. Falta educação doméstica
que ensine a respeitar a diversidade, o diferente, o não convencional.
Falta-nos despir de todo o preconceito e deixa-lo andar nu...
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