Em 1900, auge do Ciclo da
Borracha na Amazônia, a região produzia 90% da borracha consumida no mundo. Em
1923, esse percentual era de apenas 2,3%. Entre 1808 e 1913, a região amazônica
viveu uma fase de opulência graças ao produto extraído da Hevea brasiliensis, conhecida na região como seringueira. Os ganhos
eram tão altos que, em 1906, escoavam pelas águas do Rio Negro riquezas
suficientes para pagar 40% da dívida anual do Brasil; Manaus possuía o maior
consumo per capita de diamantes do
mundo e o custo de vida na região era quatro vezes mais alto do que em grandes
metrópoles do mundo, como Londres e Nova York. É dessa época a construção do
Teatro Amazonas, símbolo maior da opulência amazônica.
A história da decadência da época
áurea da borracha na região amazônica é contada em O ladrão no fim do mundo, do escritor e jornalista investigativo americano
Joe Jackson. Na verdade, o livro é a biografia do aventureiro inglês Henry
Wickhan, a quem credita-se o roubo de 70 mil sementes da seringueira, em 1876,
que foram plantadas no Jardim Botânico de Londres e, logo depois, levadas para
as colônias britânicas na Índia e na Nova Zelândia. Trinta anos depois, essas
árvores produziriam a borracha que faria concorrência com a borracha amazônica
e levaria a região à falência.
Henry Wickhan nasceu em 1846, na Inglaterra, e
desde cedo manifestou pendor pela aventura. Antes de vir para o Brasil, em
1871, esteve envolvido em aventuras fracassadas em várias partes do Império
britânico na América do Sul e na Ásia. Aliás, Wickhan colecionou fracassos na
vida, o que destruiu seu casamento com Violet Carter. Seu único êxito foi
exatamente o contrabando das sementes de Hevea,
o que lhe valeu um reconhecimento tardio por parte do Império e o titulo de
Sir.
Narrador habilidoso, Joe Jackson
sabe narrar a saga de Wickhan com maestria, contextualizando-a dentro de uma
empreitada do império Britânico para manter o controle sobre uma área vital da
economia da época. Inclusive, o ponto forte do livro é o detalhamento da
economia da época para explicar as circunstâncias em que ocorreu o que pode ser
chamado de primeiro caso de biopirataria da Era Moderna. Um livro
interessantíssimo.
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