O escritor gaúcho Josué Guimarães
viveu a maior parte da vida como jornalista, somente despontando como escritor
aos 51 anos, em 1972, no período mais duro da Ditadura Militar, da qual era
ferrenho opositor. Esse posicionamento político está explícito na sua obra, o
que lhe custou o exílio em Portugal. A história de Dona Anja, escrito em 1978, se
passa na noite de 03 de dezembro de 1977, no momento em que o Congresso
Nacional votava a emenda do senador Nélson Carneiro, que instituiria o divórcio
no Brasil.
Tendo como pano de fundo o
bipartidarismo instituído pela Ditadura e as transformações politicas e
culturais, as autoridades da pequena cidade se reúnem na sala da “suspeita”
casa da outrora cobiçada Dona Angélica, ou dona Anja, na companhia das
“meninas” para escutar pelo rádio a sessão do Congresso que votaria a Lei do
Divórcio. No grupo havia o delegado, o prefeito, o líder da oposição e do
governo na Câmara de vereadores, e personalidades representativas do que havia
de melhor da sociedade daquele pequeno vilarejo.
Narrado em estilo de folhetim, Dona Anja retrata as reações prós e
contra diante da votação, ouvida atentamente pelo rádio. Em meio a carícias e
escapadelas com as “meninas” de dona Anja, as personalidades ilustres discutem
o destino do país após a votação da emenda. É impossível não fazer um paralelo
com a discussão atual sobre o casamento gay: os discursos prós e contra são
muito parecidos e, ao que tudo indica, o desfecho será o mesmo. Um autor que só
conheci agora, mas que abriu as portas para outras de suas obras...
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