Quando li a repercussão do livro Manifesto do nada na terra do nunca, de
Lobão, imaginei que o livro era uma bomba, afinal, o autor é conhecido por ser
uma metralhadora verborrágica. Mas fui traído pela minha própria expectativa.
Não que o livro seja ruim, mas eu esperava mais “bombas” levando em conta a
indignação de “alvos” de Lobão, como Mano Brown, do Racionais MC’s. É certo que
lobão não perdeu sua veia polêmica, mas o que ele fala é do conhecimento público,
apenas a imprensa e o mundo artístico evitam falar em nome do famigerado
“politicamente correto”.
No primeiro capítulo, intitulado A terra do nunca, Lobão critica a o
mundo artístico, entre eles Gonzaguinha (“Uma das figuras mais insuportáveis da
nossa MPB”) por suas músicas politicamente engajadas e seus “sambões
maníaco-depressivos”; Racionais MC’s, a quem chama de “ridícula caricatura” da
doutrina petista, com seus “clichês anacrônicos”, um “idiota útil”; Roberto
Carlos, “que era genial e virou uma múmia deprimida”; e Gilberto Gil e Paula
Lavigne, o “rei” e a “rainha” da Lei Rouanet, por pedirem muito dinheiro para
Ministério da Cultura para seus projetos. Lobão fala que a MPB era elitista e
não popular, os artistas verdadeiramente populares nunca fizeram parte do
movimento. Sou obrigado a concordar com ele...
No terceiro capítulo, Vamos assassinar a presidenta da República?,
Lobão faz críticas à nossa governante por sua participação na guerrilha
armada durante a ditadura militar, no que eu discordo, já que vivíamos uma
guerra civil e os dois lados brigavam para ocupar o mesmo espaço. Mas concordo
plenamente com ele quando crítica a chamada Comissão da Verdade que quer
investigar os crimes cometidos pelos militares, mas se recusa a investigar os
crimes cometidos pelo outro lado, o lado em que estava a atual presidente.
Há capítulos, como Um pequeno mergulho no mundo sertanejo
universitário (acidentalmente gonzo), O reacionário e Viagem ao coração do Brasil, que poderiam ser utilizados em uma
extensão da sua biografia. Mas são muito engraçados, como Um pequeno mergulho..., em que ele conta como a cobertura de um
evento sertanejo se tornou o fim da linha para a sua participação no programa A Liga, da Rede Bandeirantes.
No capítulo Por que o rock continua errando?, Lobão fala sobre o curioso caso
do Festival Lollapaloosa, quando se
recusou a tocar por que colocaram seu show às duas da tarde. Se sentindo
diminuído, gravou um vídeo e postou no youtube
convocando todos a boicotarem o festival. Não deu certo. Nesse caso,
concordo com a organização do festival. O Lobão dos anos 80 era digno de tocar
em horário “nobre” de qualquer festival, depois que começou a fazer músicas
“intelectualóides”, nem tocando às dez da manhã.
Hoje, prefiro o Lobão escritor:
polêmico, com seus argumentos bem fundamentados e sua acidez insuperável. Um
livro imperdível para quem quer conhecer o pensamento de quem conhece bem os
bastidores do universo artístico brasileiro e fala o que pensa.
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