Filme brasileiro de gangster
sempre parece caricato. Talvez o problema esteja em mim, que não estou
habituado a ver esse tipo de produção por essas paragens. Foi assim que vi Cabeça a prêmio (2009), primeiro filme
como diretor de Marco Ricca, que também roteirizou, ao lado de Felipe Braga.
Marçal Aquino, autor do romance homônimo, assessorou no roteiro. O filme se
passa em algum lugar perdido na fronteira do Brasil com a Bolívia e tem todos os
personagens necessários para um filme de bandidos (no caso em questão, não há
mocinhos): traficantes, pistoleiros, latifundiários, prostitutas de beira de
estrada, pilotos que levam mercadorias ilícitas.
Miro (Fulvio Stefanini) é um
latifundiário criminoso líder da família Menezes, casado com Jussara (Ana
Braga) e pai de Elaine (Alice Braga). Elaine tem um caso com o piloto do pai,
Denis (Daniel Hendler), que é assediado e chantageado por Abílio (Otávio
Muller), o irmão problema que vive na sombra de Miro. Para proteger toda a
família e resolver seus “problemas”, Miro usa os pistoleiros Albano (Cassio
Gabus Mendes) e Brito (Eduardo Moscovis). O foco é a relação entre Miro e
Elaine, marcada pela superproteção e pelo ciúme do pai e pelo desconhecimento
da origem do luxo em que vive por Elaine.
Correndo em paralelo, temos o
drama da relação entre Brito, o capanga, e Marlene (Via Negromonte), dona de um
bar. Ambos disputam o controle da relação e Brito vive na fronteira entre seu
instinto matador e o amor por Marlene. Curiosamente, as duas relações
(Elaine/Denis e Brito/Marlene) nunca atingem a plenitude. Não por causa de um
obstáculo ou outro, mas existência naquele ambiente marginal restringe as
emoções humanas. Só assim para percebermos as semelhanças entre Elaine e Brito,
duas pessoas que vagam pela vida sem saber exatamente para onde estão indo.
A minha falta de hábito em ver
produções brasileiras com gangster não tira o mérito do filme de Ricca. Com um
deslize aqui e outro ali, o filme tem qualidades. Com um dos finais mais intensos que vi, Cabeça a prêmio nos deixa pensando no
que pode ter acontecido depois que o filme acabou...
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