Semana passada, assisti no Canal
Brasil um documentário sobre a biblioteca do José Mindlin. Confesso que senti
aquela pontinha de inveja, mas uma inveja benéfica, bonita, de quem quer ter
uma igualzinha. É aquela inveja que se sente de quem tem a mesma paixão que a
gente, os livros. O tamanho do acervo que o bibliófilo construiu ao longo de
quase 80 anos é impreciso: varia, de acordo com a fonte, entre 35 e 40 mil
volumes de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viagens, manuscritos
históricos, periódicos, livros científicos, iconografias e gravuras.
José Ephim Mindlin nasceu em São
Paulo em 1914, filho de imigrantes judeus ucranianos. Formou-se em direito em
1936, mas largou a profissão para fundar, em 1950, a Metal Leve, pioneira na
pesquisa e desenvolvimento tecnológico na área de autopeças, que presidiu até
1996. Casou com a restauradora de livros Guita
Mindlin, com quem ficou casado por mais de 50 anos. Comprou seu
primeiro livro aos treze anos, Discours
sur l’HistoireUniverselle, de Jacques Bossuet, de 1740. E não parou mais! Certa
vez, questionado se tinha algum livro predileto entre os que colecionou ao
longo da vida, respondeu que uma das características da bibliofilia era a
poligamia: "Não há como dizer prefiro este ou
aquele", afirmou.
Entre as
preciosidades da biblioteca de José Mindlin está a versão original de Grande sertão: veredas, de Guimarães
Rosa, as primeiras edições de obras como Os
Lusíadas, de Camões, O guarani, de
José de Alencar e A moreninha, Joaquim
Manuel de Macedo. Outra raridade é um exemplar autografado por Machado de
Assis. Em 2006, Mindlin foi eleito para a Academia Brasileira de Letras,
sucedendo Josué Montello na cadeira número 29.
No mesmo
ano, Mindlin resolveu doar todo seu acervo para a Universidade de São Paulo, formando
a Biblioteca Brasiliana Guida e José
Mindlin, podendo ser acessada pelo link http://brasiliana.usp.br/bbm_livros. “Eu e Guita (já
falecida na época) éramos os guardiães destes livros que são um bem público”, afirmou
na ocasião para justificar a doação. José Mindlin morreu em 28 de fevereiro de
2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário