Quando se trata de Miguel Sousa
Tavares sempre esperamos algo mais. Principalmente quem já leu Equador (2003) e Rio das flores (2007). Dessa forma, No teu deserto, de 2009, deixa uma pontinha de decepção. O livro,
nem de longe, pode ser comparado aos outros dois. A obra é o relato romanceado
de uma das treze viagens que o autor fez ao deserto do Saara nos anos 80, ao
lado de uma mulher bem mais jovem, mas que marcou profundamente a vida do
protagonista, alter ego do autor. Poderíamos dizer que o livro é um “quase
romance” ou um “quase relato de viagem”.
Com descrições precisas da
paisagem árida e do silêncio do deserto, dos entraves burocráticos nos países
africanos e das dificuldades dos motoristas em dirigir nas estradas arenosas, o
protagonista presta um verdadeiro tributo ao Saara. A dúvida que fica é se essa
era a verdadeira intenção dele ou se ele queria, na realidade, usar a viagem
como pretexto para prestar uma homenagem a sua companheira de aventuras,
Cláudia, que ele conhecera no dia anterior da viagem, mas deixou-o
impressionado.
O relato mostra a evolução da
relação deles na solidão do deserto. A princípio apenas o desejo de conhecer o
deserto os unia, mas o tempo e os obstáculos transpostos, fazem com que um se
adapte ao outro apesar das diferenças entre ambos. A história está tão centrada
no casal que quase não se percebe que ele viaja junto com uma caravana de jipes
e uma centena de pessoas. Essa história, que se pode se chamar de amor, tem
algo em comum com outros livros de Sousa Tavares (apesar de ser muito diferente
em outros aspectos): o final é inesperado.
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