Atire a primeira pedra quem nunca
praticou o prazer solitário, o famoso cinco contra um. Esse é o tema de Manual da paixão solitária (2008), de Moacyr Scliar, onde o escritor
gaúcho romanceia o capítulo 38 do Gênesis, do Antigo Testamento, em que o
patriarca Judá tenta da continuidade à sua linhagem. Scliar retoma a fonte de outros dois livros
seus: A mulher que escreveu a Bíblia
(1999) e Os vendilhões do templo (2006).
E faz isso, mais uma vez, com a genialidade que lhe foi peculiar. Salientando que Scliar não adulterou nada.
Como os narradores bíblicos não muito sucintos, muitas das informações
descritas carecem de detalhes, o autor criou diálogos, descrições de passagens
e personalidades, além de investigar as emoções dos personagens e o que os
motivou a tomar decisões.
Num congresso de estudos
bíblicos, o professor Haroldo Veiga de Assis e sua ex aluna e desafeta, Diana
Medeiros, contam as história de Shelá e Tamar sob pontos de vistas distintos. A
história de Shelá, filho de Judá, é contada pelo professor. Apaixonado por
Tamar, Shelá ver seu irmão mais velho casar coma a amada. Ao morrer sem
engravidá-la, Er passa essa obrigação para seu irmão, Onan, que pratica com a
esposa o coito interrompido, não engravidando-a, sendo castigado por Deus com a
morte. Com a morte do irmão, caberia a Shelá desposar a cunhada, por quem é
apaixonado, mas seu pai, temendo perder o terceiro filho para Tamar, não
autoriza o casamento. Privada de filhos e de marido, Tamar irá recorrer a um
ardil que se tornará lendário.
Quem dá voz a bela e hipnotizante
Tamar é a professora Diana, que busca desvendar os mistérios e as razões por
trás dos fatos que definem os destinos da própria Tamar e de Shelá.
Estigmatizada pela comunidade em que vivia, Tamar explica por que o seu
casamento com Er não deu certo, por que nunca engravidou de Onan, declara seu
desapontamento em não poder casar com Shelá e como preparou o ardil contra o
patriarca. Uma bela história, um belo livro, como todos de Scliar...
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