No posfácio, a professora Lilia
Moritz Schwarcz afirma que “... é uma obra prima por equilibrar ficção e não
ficção.” De fato, Equador, do
português Miguel de Sousa Tavares, pode ser inserido entre as obras primas da
literatura. Fruto de longa maturação e investigação histórica é um romance
histórico na definição mais clássica do gênero, mas também fascinante por
retratar um período complexo da história portuguesa, os últimos anos da
Monarquia, no inicio do século XX. Enquanto o mundo vivia uma fase de grandes
invenções e avanços sociais e econômicos, Portugal ainda era acusado de usar
trabalho escravo em suas colônias.
O protagonista é Luís Bernardo,
um bom vivant culto que aprecia a arte,
a boa bebida e conquistas amorosas, desfrutando da riqueza que herdou do pai. Suas
opiniões sobre a politica colonial portuguesa chamam a atenção do rei D.
Carlos, que vê nele a pessoa certa para administrar uma das suas colônias (as
ilhas de São Tomé e Príncipe), que estava se transformando no pivô de uma crise
com a Inglaterra. Administrar não apenas a colônia, mas também o conflito. A Inglaterra
acusava Portugal de utilizar mão-de-obra escrava nas ilhas.
Cabia a Luís Bernardes não apenas
convencer o cônsul inglês que não existia trabalho escravo na colônia, o que era
mentira, mas também os colonos a não utilizar essa prática já erradicada em
território português (pelo menos em teoria). Tarefa árdua. Em apenas três anos,
Bernardes teria que mudar uma prática que perdurava a séculos. No livro, nem
tudo que parece, é. O vilão não é tão vilão como parece, nem o mocinho é tão
mocinho como parece. Ou melhor, não há vilões e mocinhos. Há personagens que parecem
reais. Um livro que já é uma obra-prima.
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