O personagem narrador de Diário do farol, de João Ubaldo Ribeiro,
é um ex-padre que conta sua história a partir de um farol localizado numa ilha
deserta, construído por ele mesmo e batizado de Lúcifer, o Portador da Luz. O nome
pelo qual o farol é batizado pelo personagem dá uma pista da sua personalidade.
“Meu único dever aqui, imposto por mim mesmo e não por qualquer consideração
vulgar e mendaz, é a honestidade.” E isso não lhe falta! Ele destila seu ódio
contra tudo e todos que atravessem seu caminho.
Filho de um fazendeiro
autoritário, que mata a mulher para ficar com a cunhada, o pároco tem como
únicas lembranças da infância as surras e o desprezo que o pai devotava-lhe,
além do assassinato da mãe. A partir disso, estabelece como objetivo de vida o
assassinato do pai como vingança pela morte da mãe, cujo espectro sussurra-lhe
como obtê-la. Ao longo da vida estabelece um segundo objetivo: vingar-se da
mulher que o desprezou. Todas as suas ações vão girar em torno desses
objetivos.
É impossível duvidar da sua
honestidade ao narrar, de forma tão crua e sem rodeios, os métodos que utilizou
para passar por cima de todos aqueles que, de alguma forma, colocaram-se como
obstáculos. Pode-se duvidar da sua isenção psicológica e da sua sanidade
mental. Jamais da sua honestidade. Psicopata? Sociopata? Esquizofrênico? Ou tudo
junto? A obra é mais uma demonstração da genialidade do autor que encarna com
perfeição o personagem, com já tinha feito em A casa dos budas ditosos. Um livro imperdível!
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