“É essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim que flutua à
minha volta. Mesmo com as tripas saindo pelo cu, eu segurando o que restou,
mesmo assim minha primeira vontade é recolocar o meu calção de banho”. (Tripas)
O primeiro livro que li do
Palahniuk foi Clube da luta (1996) e
fiquei fã do escritor, dono de um estilo agressivo e transgressor. Depois li Sobrevivente (1999), No sufoco (2001) e Clímax (2014).
Em todos eles não senti a mesma “pegada” do primeiro livro, mas continuei fã.
Agora li Assombro, publicado em 2005,
e vi o mesmo Palahniuk de o Clube da
luta, talvez até mais agressivo e transgressor. O que me chamou a atenção
para esse livro, além do fato de ser do Palahniuk, foi um artigo na internet
que falava de 73 que passaram mal enquanto o autor lia Tripas, primeiro conto de livro,
em suas turnês.
“Não importa quão imbecil seja uma ideia, estamos fadados a estar
certos por que ela é nossa”.
Apesar do subtítulo, Assombro é uma coletânea de contos
unidos por um enredo comum. Dezoito escritores são misteriosamente convidados
para um retiro literário com duração de três meses. Durante esse período,
ficarão completamente isolados para escrever o que poderia vir a ser uma obra
prima. Encerrados num teatro (estavam proibidos de sair, mesmo que quisessem) à
prova de fuga, os personagens-escritores, enquanto escrevem seus contos, vão se
sabotando numa terrível luta pela sobrevivência e, o que é pior, pela fama, que
viria quando saíssem do cativeiro.
“Nossa maior alegria é quando vemos alguém que invejamos se dar mal.
Não há alegria mais genuína”. (Canção de despedida)
O primeiro conto é o tão falado Tripas, que conta a história de um
garoto que adora se masturbar no fundo da piscina enquanto a pressão da água
descendo pelo ralo faz sucção no seu ânus. Apesar do desfecho grotesco e
escatológico, não senti nada parecido com um desmaio. Mas é um conto
fantástico! Outro conto que merece atenção especial é Fondue, que narra o que acontece quando uma pessoa é fervida viva. Na
história que serve de elo para os contos, o canibalismo é algo recorrente (“A gordura brilha nos nossos queixos e nas
pontas dos dedos” e “- Nossa, é dura,
amarga”), como também as disputas (na maioria das vezes desleais) entre os
escritores. Não dá para não perceber uma crítica aos realities shows e àquelas histórias edificantes de sobreviventes de
desastres. É um livro FODA!
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