Durante a juventude, Renato
Manfredini Jr. foi acometido pela epifisiólise, uma doença rara que provoca
fortes dores nos ossos. Entre os quinze e os dezesseis anos, o futuro astro do
rock nacional foi obrigado a ficar preso a uma cama por causa de uma cirurgia
mal sucedida (um pino foi aplicado sobre seu nervo) e nesse período de
convalescência e ócio, escreveu a história de uma banda imaginária. Esses
manuscritos ficaram longe dos olhos do público até o ano passado, quando foram
reunidos pelo seu filho, Giuliano Manfredini, e lançado em livro durante as homenagens
pelos 20 anos da morte do músico.
Todo escrito em inglês, o material
estava disperso em cadernos e folhas soltas e deu origem a The 42nd Street Band, a história de uma banda inglesa homônima
formada pelos primos Eric Russel (homenagem a Jean-Jacques Rousseau e Bertrand
Russell, que Renato adotaria mais tarde como nome artístico, mudando-o para
Russo), Jesse Philips e Nick Beauvy. Nos textos reunidos, Renato mistura
realidade e imaginação, colocando na história personagens reais, como Mick
Taylor, dos Rolling Stones, e fictícios. Como também faz referências a musicas
e álbuns que existiram de fato.
É possível também observar um
prenúncio do que viria a ser Renato como astro do rock nacional. Vestígios e
traços das letras e nomes de músicas da banda imaginária apareceram mais tarde
em músicas feitas pelo músico durante a sua carreira. Mas o livro é confuso. A
narrativa, muitas vezes, começa e termina de forma abrupta, como também
apresenta repetições e divergências de informações. Na “Nota Editorial”, no
início do livro, esses “deslizes” são creditados ao fato do material ter sido
encontrado “espalhado”. Mas a imagem que fica é a de que o livro é tão somente
uma forma de ganhar algum dinheiro a mais com a imagem do músico, pegando uma
carona nas homenagens dos 20 anos de sua morte. Em outras palavras, uma obra
“caça-níquel”, perfeitamente dispensável.
No entanto, apesar de ser uma
obra dispensável até mesmo para o mais apaixonado dos fãs do Renato e da Legião
Urbana, como eu, o livro nos deixa duas conclusões sobre o músico. A primeira
delas é que Renato Russo vivia e respirava música desde a mais tenra idade. A
segunda conclusão é de que devemos comemorar a fato dele não ter se tornado
escritor. Ganharíamos um romancista sofrível e perderíamos um músico genial.
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