“Quando sentem que vão morrer, os
elefantes velhos cambaleiam até as montanhas; os americanos velhos, por sua
vez, vão para as rodovias e rumam para a morte em carros imensos”.
O jornalista americano Hunter S.
Thompson é considerado o criador do chamado Jornalismo Gonzo, onde o narrador
se mistura com a ação, confundindo realidade e ficção. Já escrevi aqui, em 2014,
sobre o livro Rum: diário de um jornalista
bêbado, escrito em 1960, mas publicado apenas nos anos 90, baseado na
experiência do autor quando foi enviado para Porto Rico como correspondente de
uma revista de esportes. Medo e delírio
em Las Vegas também é baseado numa viagem de Thompson, dessa vez para Las
Vegas para cobrir uma tradicional corrida de motos. Publicado em 1970 na
revista Rolling Stones em artigos,
sai em formato de livro no ano seguinte. Em 1998, recebe uma versão para o
cinema com Johnny Depp (Raoul Duke) e Benicio Del Toro (Dr. Gonzo).
“Numa sociedade fechada, na qual todos são culpados, o único crime é
ser pego. Num mundo de ladrões, o único pecado capital é a burrice”.
O repórter Raoul Duke (alter ego
de Thompson) é designado para cobrir uma corrida off-road em Las Vegas. Na companhia do seu advogado, um junkie samoano
chamado Dr. Gonzo (inspirado no advogado mexicano Oscar Zeta Acosta), aluga um
conversível vermelho e, munidos de um arsenal de drogas (LSD, mescalina,
cocaína, haxixe, éter e muito álcool), cruzam o deserto desmistificando o sonho
americano. Sempre alucinados devido ao consumo desenfreado de drogas e álcool,
os protagonistas vão se metendo numa confusão atrás da outra. Como a grana da
revista acabou antes mesmo da viagem começar, Duke não hesita em utilizar seus cartões
de crédito sem crédito, acumulando dívidas astronômicas.
“A imprensa é uma gangue de covardes impiedosos”.
Com a mente encharcada de drogas
e álcool, Duke tenta fazer o seu trabalho, mas só consegue se meter em
repetidas confusões e não enxergar o sentido naquilo tudo. A poeira e a sede
(além das drogas e do álcool) nublam sua visão do evento. Ao término da
corrida, Duke é designado para outro evento, uma conferência nacional de
promotores públicos sobre entorpecentes e drogas perigosas. Não sei por que,
mas acho que ele e seu advogado samoano não seriam as pessoas mais indicadas
para tal missão. Um livro memorável e uma das narrativas mais intensas e
malucas que já li. É aquele tipo de obra que lê somente uma vez não é
suficiente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário