“Eu me adoro, eu não
gosto é do mundo”.
O apetite dos fãs da banda Legião Urbana é insaciável.
Qualquer coisa que se publique sobre a banda ou sobre qualquer um dos seus
ex-integrantes vai vender. Por mais que se pense que todos os assuntos
referentes à banda estão esgotados, sempre há algo mais a ser revelado ou um
boato a ser confirmado. E quem cuida do espólio de Renato sabe disso. Seu
filho, herdeiro único, anuncia já no prefácio, intitulado O homem por trás do mito, que Só
por hoje e para sempre: diário de um recomeço, publicado em 2015, é apenas o
primeiro de uma série de livros que reunirão diários, poemas, letras, obras de
ficção e desenhos deixados pelo ex-líder da Legião Urbana.
“O mundo lá fora me
causa um misto de medo e indiferença (se isso é possível)”.
Não que não seja importante saber pelo próprio Renato das
suas angústias, de detalhes da sua vida pessoal, de momentos importantes
durante as turnês da banda, da sua relação com seu filho, Giuliano.
Indiscutivelmente, tudo isso é importante para quem é fã. Mas percebe-se certa
voracidade de todos aqueles que se envolveram, direta ou indiretamente, na
carreira da Legião Urbana em tirar algum proveito dessa vivência. Por isso, fãs
da legião Urbana, preparem-se, pois muita coisa ainda irá sair sobre a Legião
e, principalmente, sobre Renato Russo.
“Raramente beleza vem
acompanhada de inteligência e charme”.
O diário de um recomeço
começa quando Renato
toma a decisão de se livrar do vício em álcool, maconha, heroína e cocaína.
Estamos no ano de 1993 e a internação na Vila Serena dura 29 dias entre os
meses de abril e maio. O tratamento envolvia várias dinâmicas e escrever sobre
si mesmo e sobre o tratamento estava entre elas. O que se vê nos diários é uma
pessoa só, angustiada e desorientada, que possuía uma descrença generalizada no
mundo e nas pessoas, descambando para a autodestruição.
“O maior conflito que
vivia na ativa era o de só me sentir bem comigo mesmo quando alcoolizado ou
drogado. (...) Achava o mundo cruel e sem sentido, e as pessoas estúpidas
ignorantes, falsas e más”.
Mas a sua genialidade aparece até nesses momentos tortuosos.
As marcas desses dias de confinamento podem ser vistas no CD da banda lançado
no final daquele ano, O descobrimento do
Brasil. Na canção Vinte nove, cujo
título se refere à quantidade de dias que ele ficou confinado na clínica,
Renato coloca o sintético verso “decidi começar a viver”. O fato é que,
independente dos interesses por trás dos lançamento de livros sobre a Legião e
sobre Renato, o fato é que fã não quer saber disso e eu sou fã! Por
isso, a leitura do livro foi um deleite para mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário