"Certo
de que havia um desvio moral em meu caráter, passei da infância à adolescência
aprendendo a mentir, como na vez em que comecei a namorar Berta só para ficar
próximo do irmão dela, meu querido Dori."
Podemos afirmar com segurança que
o escritor Nelson Luiz de Carvalho amadureceu muito a sua narrativa no
intervalo de sete anos que separa O
terceiro travesseiro, seu primeiro romance, e Apartamento 41, publicado em 2007. No seu segundo romance, o
principal personagem da trama deixa de ser jovens descobrindo a sexualidade e
passa a ser um homem maduro que reprimiu por anos a sua verdadeira identidade
sexual em nome da família.
“Envolvido demais nesse admirável mundo novo, já não consigo só me
masturbar pensando em alguém; tenho de me realizar nesse universo de corpos em
que beijos e olhares insinuantes predispõe um inusitado balé de falos”.
Leonardo trabalha numa editora de
revistas, casado há mais de uma década e pai de uma criança de cinco anos. O cidadão modelo para os padrões tradicionais
se não fosse por um detalhe: Leonardo é homossexual e sente o vazio de quem não
suporta mais levar uma vida dupla, fazendo papel de pai e marido por um lado e,
por outro, buscando prazeres com homens em lugares obscuros e marginais.
“Não quero que o futuro me seja indiferente, por eu interpretar com a
máscara da obediência meus verdadeiros sentimentos”.
As dificuldades para quem está
numa situação semelhante à de Leonardo não são poucas. A primeira delas é
contar para a esposa e enfrentar a sua frustração por se sentir enganada em
seus sentimentos. Decidido a assumir a sua verdadeira personalidade, Leonardo
se depara com outros dilemas: como encontrar novos parceiros? Que lugares
frequentar? Vencida mais uma etapa, vem a exposição e Leonardo, antes o
queridinho do patrão conservador, perde o emprego depois que esse descobre a
sua condição sexual. As provações não para por aí: Leonardo sofre com a falta
de compromisso de vários parceiros e com as desilusões com o gueto homossexual.
“Acostumado ao cabresto social, nunca sei se estou mais próximo de Deus
ou do Diabo”.
E Nelson consegue retratar todo
esse drama com maturidade entremeado de momentos quentes e eróticos (e bastante
interessantes...)
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