”Como é que se compreendia o amor, o desejo da posse animal entre duas
pessoas do mesmo sexo, entre dois homens?”
Quando foi publicado, em 1895, Bom crioulo, do escritor cearense Adolfo
Caminha causou polêmica, pois trazia como personagem principal Amaro, um
ex-escravo homossexual que se torna marinheiro. Essa obra pode ser considerada
a primeira obra com temática gay da literatura brasileira. De físico
avantajado, bom trabalhador e obediente (daí o apelido “Bom crioulo”), Amaro se
transforma quando bebe, tornando-se agressivo.
“E consumou-se o delito contra a natureza”.
Aleixo, um grumete loiro (marinheiro
de posição inferior), ainda imberbe, de apenas 15 anos, chega para servir na
mesma corveta em que Amaro trabalha, mexendo com o coração do ex-escravo.
Ingênuo e ligeiramente afeminado, o jovem grumete termina se tornando amante de
Amaro, que o leva para morar num quartinho na pensão de D. Carolina, amiga do
Bom Crioulo. Em um dos longos períodos em que Amaro fica embarcado, D. Carolina
seduz o jovem Aleixo, despertando a fúria do amante traído.
“Agora compreendia que só no homem, no próprio homem, ele podia
encontrar aquilo que debalde procurara nas mulheres”.
Pertencente à escola literária do
Naturalismo, que destaca os ambientes sujos e sórdidos (numa clara
contraposição ao Romantismo, em que tudo era perfeito e ideal) e defende a
teoria do determinismo, onde a personalidade do ser humano é definida pelo meio
em que ele vive, não havendo livre arbítrio, Bom crioulo foi um livro de conteúdo explosivo para a época por
retratar não apenas um romance entre dois homens (o que, por si, já seria um
escândalo), mas por trazer a história de um amor inter-racial, o negro Amaro e
o loiro Aleixo.
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