“Imaginar algo acontecendo com minha mãe era particularmente
assustador, porque meu pai não era muito confiável”.
Lançado em 2013 nos Estados
Unidos e na Europa, O pintassilgo, da
americana Donna Tartt, chegou ao Brasil no ano seguinte com status de best-seller, com 1,5 milhão de
exemplares vendidos somente na terra do Tio Sam e a conquista do prêmio
Pulitzer de ficção. A obra atraiu opiniões extremadas e apaixonadas, tanto
negativas como positivas. Num calhamaço de mais de 700 páginas, Donna Tartt
elaborou uma história intrincada e prolixa, com muitos personagens e tantas
idas e vindas que podemos compara-la a um conto de fadas. Porém, isso não faz
de O pintassilgo um livro ruim e
cansativo.
“O champanhe fazia cócegas no céu da minha boca – uma alegria distante
e empoeirada, engarrafada num ano mais feliz em que minha mãe ainda estava
viva”.
Theo Becker tem 13 anos e mora
com a mãe, Audrey. Numa visita a um museu em Nova York mãe e filho são vítimas
de um ataque terrorista que mata Audrey, mas Theo consegue escapar dos
escombros levando consigo um quadro do pintor holandês Carel Fabritius, pintado
1654, intitulado “O pintassilgo”. Sem
ter para onde ir, já que tinha sido abandonado pelo pai alcoólatra, Theo vai
morar na mansão da família de um amigo da escola, onde se sente deslocado e
triste. Atormentado pela ausência da mãe e sentindo solitário, Theo se apega a
pintura retirada do museu.
“É um mito a ideia de não se pode funcionar à base de narcóticos:
injetar era uma coisa, mas pra alguém como eu (...) as pílulas eram a chave
para que fosse não só competente mas altamente funcional”.
Com o aparecimento do pai, mais
interessado nos lucros que a morte da ex-mulher poderia lhe trazer, Theo vai
viver em Las Vegas, onde conhece Boris e com quem comete pequenos crimes e
consome drogas em escala industrial. Negligenciado pelo pai trambiqueiro e pela
madrasta desleixada, resta a Theo se atirar às aventuras da adolescência na
companhia de Boris. Com a morte do pai, Theo foge da madrasta e retorna para
Nova York, onde irá encontrar algum conforto emocional num antiquário, mas
continuará atuando à margem da lei.
“Para os humanos – aprisionados na biologia – não havia misericórdia:
vivemos por um tempo, fazemos um pouquinho de cena e morremos, apodrecemos no
chão como lixo”.
Inicialmente, a narrativa é
bastante arrastada. Mas superada essa etapa, a leitura assume contornos mais
fluidos e vontade de descobrir qual será o destino de Theo prende o leitor. É
um livro que deve ser lido com respeito, apesar das escorregadelas da autora.
Como disse Stephen King, o livro é uma raridade que aparece meia dúzia de vezes
por décadas. Não sou eu que vou questionar...
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