“O movimento repetitivo dos passos da valsa – para um lado e para o
outro – remetia Marcos a futuro monótono e previsível”.
Tem livros que vendem uma imagem
para o leitor, mas entrega outra coisa. A
dama da internet, do cineasta e escritor mineiro Neville d’Almeida é um
desses livros. Logo no prefácio, assinado pelo empresário e jornalista Ricardo
Amaral, a obra chega a ser comparada ao conto de Nelson Rodrigues A dama da lotação. Diante de tal
comparação me empolguei, afinal Nelson Rodrigues para mim é uma lenda. Aí é que
me senti logrado. Comparar Nelson e seu conto, publicado numa coluna que o
dramaturgo tinha no jornal A Última Hora entre
1951e 1961, com o livro de Neville é, no mínimo, uma heresia. Talvez tal
comparação se deva ao fato do cineasta mineiro ter feito a adaptação para o
cinema do conto de Nelson Rodrigues. E qualquer comparação para por aí.
“Enquanto os homens de bem estão pensando em como agir, o canalha age”.
Luísa é bonita, jovem e atraente.
Fora isso, a imagem que a personagem passa é de uma completa desocupada que só
pensa em casar e, depois, vingar o falso príncipe (e todos os homens do
planeta) que destruiu seus sonhos de um casamento perfeito. Marcos, o noivo de
Luísa, é um sujeito bem sucedido cuja mãe acha que ele ainda não saiu da adolescência
e que todas as mulheres do mundo querem tirá-lo de perto das suas asas. Logo na
noite de núpcias o sonho de Luísa é destruído por Marcos que, embriagado,
comete estupro contra ela. Os sonhos de Luísa continuam a ser destruídos quando
descobre que Marcos tem uma amante. Aí começa a saga de Luísa para vingar-se de
todos os homens que encontra pela rente.
“Quando o dinheiro sai pela porta, o amor pula pela janela”.
Compará-lo às obras menos inspiradas de Nelson
Rodrigues já seria um disparate. Mas a história deixa a desejar mesmo sem a
comparação por que possui um enredo tolo. Quem espera um suspense com erotismo
se decepcionará! O pouco erotismo que dá para ver com muito esforço e boa
vontade é meio forçado. O grande mérito do livro é a capa na cor vermelha,
detalhe que atrai os leitores que buscam coisas que Neville, infelizmente, se
recusou a entregar nas páginas de A dama
da internet.
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