O já mais do que consagrado Chico Buarque não precisa de
pressa. Aos 71 anos, pode se dá ao luxo de fazer o que quer no ritmo que desejar.
Como cantor e compositor, lançou um disco a cada cinco anos, em média. Como escritor,
nos últimos 25 anos publicou cinco romances. O quinto romance, O irmão alemão, publicado no ano
passado, é, na verdade, um misto de ficção e autobiografia. Em nenhum momento
fica claro para o leitor o que é verdade e o que é fruto da fértil e prolixa
imaginação do autor.
Francisco, filho do intelectual Sérgio de Hollander, acha,
entre os livros do pai, uma carta de uma mulher alemã datada do início dos anos
30, época em que Sérgio realmente morou na Alemanha. Nas cartas, a tal mulher
fala do nascimento de uma criança que seria filha de Sérgio e, obviamente, irmã
de Francisco. Chico cria confusão no leitor ao deixar a dúvida, apesar das
coincidências dos nomes, se o que é relatado é ficção ou realidade. Afinal, a
mãe de Francisco, uma típica italiana escandalosa, em nada se assemelha com a
mãe de Chico e o irmão do personagem é vítima da Ditadura Militar, fato não
acontecido na vida do autor.
Fazendo uso de pistas encontradas entre as páginas dos livros
do pai (fotografias e cartas), Francisco sai em busca do irmão alemão, chamado
de Sérgio Ernst. Ao contrário de Chico, Francisco parece ser dotado de poucos
talentos, caçula preterido pelo pai que prefere o irmão mais velho, mais bonito
e mais popular (aquele que será vítima da Ditadura). Para confundir um pouco
mais o leitor, o fato é que Chico tem um irmão alemão de nome Sérgio e o livro
traz fotos do irmão e da viagem que Chico fez à Alemanha para conhecê-lo, o que
ficou impossível em virtude da sua morte no início dos anos 80.
Nenhum comentário:
Postar um comentário