Aclamado como contista, Marcelino
Freire resolveu enveredar pela narrativa mais longa em 2013, quando publicou Nossos ossos, seu sétimo livro e
primeiro romance. Nessa obra é possível ver muito de Marcelino no personagem
Heleno de Gusmão, um dramaturgo pernambucano que resolveu ir para São Paulo
atrás de um amor. E quebrou a cara! Não chega a ser uma obra autobiográfica,
mas também é. Como diz Marcelino: “Nesse sentido, quando dizem que meu livro é
autobiográfico, eu não nego. Ele é também autopornográfico. As putarias podem
não ter acontecido comigo, mas reverberaram em mim...”.
Após o sofrimento do abandono do
namorado que o fez vir até São Paulo, Heleno enfrenta a solidão e a grande
cidade e vai à luta. Anos depois e muitos prêmios na bagagem, além de dinheiro
e prestígio, Heleno leva uma vida confortável, mas sem afeto, a não ser o dos
michês com quem costuma sair. Quando um desses garotos com quem mantinha um relacionamento
é assassinado, Heleno assume a missão de levar o seu corpo até sua cidade
natal, também no interior de Pernambuco.
A morte do rapaz desperta em
Heleno a necessidade de justificar todas as decisões importantes da sua vida,
desde a ida para São Paulo, quando foi atrás de Carlos, seu amor de
adolescência, a decepção do encontro e a decisão de buscar o seu sonho de
trabalhar como dramaturgo. Algo que permeia a narrativa é o contraste entre a
vida pessoal e a bem sucedida carreira na dramaturgia. Marcelino Freire
consegue manter o mesmo nível dos contos curtos numa narrativa mais longa. Vale
a pena ler o primeiro romance do contista.
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