Um livro de contos que o autor
prefere chamar de “pequenos romances”, Amar
é crime, publicado em 2010, é, na definição de Marcelino Freire, o seu
livro mais apaixonado, principalmente por causa da morte da sua mãe no ano
anterior, que era uma das vozes contidas em suas narrativas. Outra característica
desse livro são as narrativas mais longas, o que vai de encontro a um traço do
autor, que se notabiliza por narrativas rápidas e contundentes. A contundência permanece,
o que é uma boa notícia.
Os contos falam de amor, mas não
vá esperando aquele amor de contos de fadas, mesmo por que esperar isso das
narrativas de Marcelino é o mesmo que esperar Papai Noel no carnaval. O amor
contido em Amar é crime está longe daquele
amor contido nos discursos de pregadores do Evangelho e mais perto da nossa
realidade cruel e violenta. E essa característica aparece logo no primeiro
conto, Vestido longo, em que a
protagonista, uma menina prostituta, diz que “Assim que nasce, aparece, cresce
exibindo a bunda, mostrando o caroço do cu”.
Em Mariângela, uma garota gorda resolve matar a mãe para vingar as humilhações
sofridas. Crime mostra um jovem que planeja
sequestrar a namorada para ficar famoso. O genial Liquidação narra a briga sangrenta por um sofá velho achado no lixo.
Em jesus te ama, mostra o
envolvimento de um padre com um adolescente e a confissão do padre de que desde
criança desejava o corpo masculino: “Quando pequeno, queria tocar o corpo de
Cristo. Esconjuro. O corpo perfeito. Esconjuro. O corpo de braços abertos.
Esconjuro”.
Amar é crime não vem para acomodar as ideias e os sentimentos. Diverte,
é verdade! Mas faz pensar, incita, excita, enoja e desperta, principalmente,
sentimentos conflitantes.
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