Quinto livro de Marcelino Freire,
escritor pernambucano radicado em São Paulo,
Contos negreiros, publicado em 2005 e ganhador do Prêmio jabuti do ano
seguinte, reúne 16 contos que abordam
temas que mostram bem o gosto do autor pela polêmica, como homossexualidade,
turismo sexual, racismo, tráfico de órgãos. Apesar de poéticos, os contos de
Marcelino são viscerais, sujos, de uma sinceridade assustadora, tendo sempre
como pano de fundo conturbados cenários urbanos.
Nos dois primeiros contos, Trabalhadores do Brasil e Solar dos príncipes, vêm à tona a
questão racial no Brasil. No primeiro o personagem apresenta um tom raivoso e
magoado, no segundo o autor opta pela ironia corrosiva. Esse mesmo tema volta a
ser abordado depois em Polícia e ladrão e
Linha de tiro. Em Nação zumbi o personagem é preso por
tentar vender seu próprio rim que, afinal, é dele e ele pode fazer o quem bem
entender com qualquer parte do seu corpo.
Em Coração, uma narrativa um pouco mais longa, o tema abordado é a
homossexualidade, tema caro ao autor, homossexual assumido. Em Totonha Marcelino volta a inverter
valores quando a personagem explica por que não tem interesse em ser
alfabetizada. Em Vanicléia, a
personagem apanha do marido e o compara aos gringos, numa clara alusão ao
turismo sexual: “Casar tinha futuro. Mesmo sabendo de umas que quebravam a cara. O
gringo era covarde, levava pra ser escrava. Mas valia. Menos pior que essa vida
de bosta arrependida”.
E por aí vai! Marcelino Freire não é
um escritor de ideias convencionais. E isso, entre outras qualidades, faz dele
um dos grandes expoentes da nova geração da literatura brasileira.
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