Pesquisa do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada) mostra que 65% dos entrevistados concordam que
“mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas” e para quase 60% acham que
se as mulheres soubessem “se comportar” haveria menos estupros. Definitivamente,
o brasileiro é um povo surreal. Vou dizer surreal para não dizer hipócrita! Ao
mesmo tempo em que enaltecemos a beleza da mulher brasileira, realizamos um
carnaval onde predominam peitos, bundas e roupas sumaríssimas e nas praias a
mulheres vestem (vestem?) adereços com o nome sugestivo de “fio dental”, mais
da metade de nós acredita que as nossas belas mulheres se comportam mal e por
isso merecem ser estupradas.
Para protestar contra o resultado
da pesquisa, a jornalista e escritora Nana Queiroz criou o grupo virtual “Eu
não mereço ser estuprada” e passou a ser ameaçada de estupro. O cordial
brasileiro não apenas pensa absurdamente, mas faz questão de mostrar, na
prática, que os dados da pesquisa não estão errados. A hipocrisia brasileira
não conhece limites, ela permite que “o homem cordial” aja como um povo de um
país tropical liberal durante o carnaval e o verão, mas pense como um talibã
afegão no restante do ano.
A dinâmica do raciocínio do
brasileiro é uma incógnita. A culpa nunca é dele e da sua estupidez crônica! Se
o Brasil é uma merda, a culpa um dia foi dos portugueses, depois dos Estados
Unidos e do FMI e agora é da FIFA. Se há estupros no Brasil e não podemos
culpar os portugueses, nem os EUA, nem a FIFA, então a culpa é das mulheres. Nada
mais lógico (?)! É a lógica do “não sei por que estou te batendo, mas você sabe
por que está apanhando”.
Brasileiro não vende seu voto,
ele “rouba o político”. Depois fica reclamando quando o político dilapida o
patrimônio público. Diante de tal raciocínio, não me resta alternativa a não
ser propor o estupro mental do brasileiro. Quem sabe assim ele comece a
raciocinar “para dentro” e consiga perceber que o inferno em que ele vive “não
são os outros”, mas ele mesmo.
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