Quando a escritora Herta Müller
foi agraciada com o prêmio Nobel de Literatura, em 2009, o leitor brasileiro
não via motivos para isso, afinal, até então, somente um livro da autora havia
sido publicado no Brasil. Com a publicação no Brasil de Tudo que tenho levo comigo, mais em consequência do prêmio, o
leitor brasileiro viu que o Nobel era mais do merecido. Tudo bem que a Academia
sueca leva mais em consideração as posições políticas do que a produção
literária dos seus laureados, mas no caso de Müller, que tem um histórico de
perseguições políticas em seu país, o que a obrigou a fugir para a Alemanha, o
prêmio também se justifica pela sua produção.
Herta Müller nos mostra que as
barbaridades não acabaram com a derrota nazista ao fim da Segunda guerra
Mundial. Os russos, com a justificativa de punir os alemães pelos crimes
cometidos durante a guerra, começam a perseguir a minoria alemã que vivia na
Romênia, então sob domínio russo. Leo Auberg, narrador do livro, é um
adolescente que pertence a essa minoria, que é mandado para um campo de
trabalhos forçados para expiar os crimes nazistas. A vida de Leo não era nada
fácil: de origem alemã, etnia perseguida pelos russos; e homossexual, prática
criminalizada no país que outrora fora dos czares.
Um enredo que não teria nada de
excepcional se não fosse a capacidade da autora de criar imagens, como a do
Anjo da Morte, uma “entidade” que decide que vai morrer e quem vai viver dentre
aqueles prisioneiros que viviam numa situação limite, golpeados pela fome, pelo
frio e pelos trabalhos exaustivos. Um livro quase biográfico, pois foi baseado
em relatos de sobreviventes desses campos, entre eles a mãe da autora que, como
Leo Ausberg, passou cinco anos numa campo de trabalhos forçados. Um livro que
justifica o prêmio.
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