Dos muitos documentários que
assisti Meu amigo Cláudia (2009), do
diretor estreante Dácio Pinheiro, é um dos mais impactantes e esclarecedores. Cláudia
Wonder, nascida Marco Antônio Abrão em 1955, tonou-se uma das artistas
brasileiras mais importantes da cena underground nas décadas de 80 e 90. Se
isso não bastasse, tornou-se ativista política nos anos 2000, ganhando
notoriedade como líder do movimento em prol do livre exercício da diversidade
sexual, se envolvendo na criação do Centro de Referência da diversidade, em
parceria com a Prefeitura de São Paulo. Cláudia morreu em novembro de 2010 em
decorrência de uma infecção causada por fezes de pombo.
O documentário conta a história
de Cláudia a partir de seus depoimentos e de pessoas próximas, como Leão Lobo,
José Celso Martinez Corrêa, Kid Vinil, Sérgio Mamberti e Glauco Mattoso. Traça
sua trajetória desde sua origem, quando seu pai mandou prendê-la por ser
homossexual; passando pelo primeiro filme pornô com travesti, Sexo dos anormais, que ela protagonizou;
e participação em peças de teatro de Zé Celso Martinez e longas, como O marginal. O filme também mostra sua
veia musical nos anos 80, ao se mostrar como vocalista das bandas Jardim das delícias e Truque sujo e lançar seu CD solo, 2007.
O filme é realmente impactante ao
mostrar como um travesti conseguiu “cavar” seu espaço no cinema, no teatro e na
música, mas não apenas isso. Como militante no movimento Diretas Já, nos anos 80, e pelo direito às
relações homoafetivas, nos anos 2000, Cláudia Wonder teve papel fundamental. O
filme é esclarecedor, pois mostra como a homofobia, que contamina nossa
sociedade ainda hoje, foi muito pior a menos de trinta anos, como mostra uma
reportagem do Programa Globo Repórter, da Rede Globo, de 1985, quando os
entrevistados diziam sem “cerimônias” que os travestis tinham mesmo que ser
mortos pois, “poluíam” a cidade. Vale a pena ler a crônica de Caio Fernando
Abreu que deu nome ao documentário.
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